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terça-feira, dezembro 28, 2004

de te reler - o espelho # 24 

eu podia ter sido uma nota numa partitura de bach/um pequeno traço
na ordenação misteriosa de um deus musical – um ponto ou uma pausa –
até o borrão de um momento venenoso de uma inevitável fraqueza
eu podia ter sido o desenho do mais pequeno país do planisfério
e nem ter espaço no corpo para que se imprimisse o nome da capital nacional do meu ser
eu podia ter sido teu amante se tu me tivesses amado com um só átomo da tua alma
eu podia ter-te na boca/nas mãos/no olhar vermelho da minha brancura
e não pude ser nada/não existo/não posso querer existir porque me faltas no sangue
a claridade visita-me nesta cela onde sou recluso deste amor fabular
e até talvez seja feliz se felicidade pode ser a solidão com que os ciprestes se enraízam


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