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quarta-feira, novembro 24, 2004

o princípio # 22 

há um entre nós um poema como uma mão queimada
uma construção sem projecto

o arquitecto é a suprema
máquina destruidora do poema
e a arquitectura só existe no poema porque no poema
ressoa a ausência do arquitecto

há ente nós um poema que move os membros flácidos
da pele num
incêndio de devoção
sinos
candeeiros
um poema púrpura onde as pedras
não se alinham
como os abjectos arquitectos querem que as
pedras
se alinhem

esse poema
......entre nós
ergue-se como um retábulo uma fábula uma au
sência de prazer

é nosso este cravo este degrau de tochas e venenos
como álcool em evaporação
o poema é a antítese da catedral
o poema evapora-se como se evapora o álcool em evaporação
a catedral é um edifício e os edifícios n
ão têm arquitectura têm arquitecto
o arquitecto é passado as rosas e as roseiras
não são edifícios por isso contêm a máxima
arquitectura do poema e o rosto eterno da vida breve
do álcool em evaporação

há entre nós uma rosa ou uma romã
uma estrutura floral sem esquadro
uma dor movente a
cortina dependurada de um louco
como uma campânula u
m estertor musical
a pausa e o ruído das sementes vermelhas da rosa
das romãs-rosa
a gravidez fremente das romãs

quero morrer enquanto ecoar a transparência
dessa leitura sem sorrisos
sem mãe
........as mães são arquitectos em acção destruidora
…morrer
sem o calor da pele tocada em noites de violência
penetrada

por detrás do poema a insuportável memória do amor
intocado puro inviolável
a irrealizável memória de um amor liberto de cruzes
da face cruzada dos arquitectos

entre nós e os arquitectos
a arquitectura
a gramática do poema

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