quinta-feira, novembro 18, 2004
o princípio # 19
sim –
saber construir janelas neste gavetão de plástico
neste leite sepulto
sonâmbulo
a que estou obrigado
aprender vertigens junto a penhascos velozes
não voltar a ter sonhos saber
cantar com o translúcido canto das crianças
femininas
sim –
gostaria
este espaço profuso de cardos-d’agua
ausente de ti
ensombra-me mortalmente.........sim –
compor todas essas coisas simples
que só a bondade tece
livrar-me da pelúcia gorda da gola do meu casaco de forças
sim –
ter o poder de estar junto de ti
e ter espaço e coração para que me ensinasses
a tricotar desenhos de peixes-voadores
........como os que afloravam de vida no convés africano
........desse navio niassa
– carrasco já afundado
........transportador de soldados sem chumbo
........para a guerra sem inimigos
não sei porque insistes tanto nas perguntas
sim –
é verdade
sim –
queria não reaprender
não ter nada entre os dedos
guardo a secreta esperança de uma deformação
inesperada
das mãos
que elas se deformem até à extinção das
palavras curvas com que te escrevo
se só tivesse mão esquerda
ou se brutalmente se invertessem os extremos
fazendo tocar a ponta dos dedos nos pulsos
e os pulsos na ponta dos dedos num osso continuo
talvez voltasse a saber-me recomeçar
há quem procure o conforto de um corpo são
eu
aspiro a uma invalidez objectiva
qualquer coisa furiosamente concreta
que pudesse mostrar com dignidade aos que amo
inaugurando outras formas de silabar
pela deformação
o amor
não sou capaz de extrair da pele um único movimento
e é tão desesperadamente extenuante morrer
já não desejo ser peixe
nem pássaro
nem homem
nem mulher
nem réptil
nem criança-pássaro
nem criança-homem
nem criança-mullher
nem criança-réptil
quero
a liberdade de um condicionamento definitivo
uma invalidez projectada
angélica e primordial
sou inextinguível como uma chama em pânico
e grito e peço e espero
a dádiva compassiva de todo o choro terrestre
no tempo rectangular da minha eternidade condenada
saber construir janelas neste gavetão de plástico
neste leite sepulto
sonâmbulo
a que estou obrigado
aprender vertigens junto a penhascos velozes
não voltar a ter sonhos saber
cantar com o translúcido canto das crianças
femininas
sim –
gostaria
este espaço profuso de cardos-d’agua
ausente de ti
ensombra-me mortalmente.........sim –
compor todas essas coisas simples
que só a bondade tece
livrar-me da pelúcia gorda da gola do meu casaco de forças
sim –
ter o poder de estar junto de ti
e ter espaço e coração para que me ensinasses
a tricotar desenhos de peixes-voadores
........como os que afloravam de vida no convés africano
........desse navio niassa
– carrasco já afundado
........transportador de soldados sem chumbo
........para a guerra sem inimigos
não sei porque insistes tanto nas perguntas
sim –
é verdade
sim –
queria não reaprender
não ter nada entre os dedos
guardo a secreta esperança de uma deformação
inesperada
das mãos
que elas se deformem até à extinção das
palavras curvas com que te escrevo
se só tivesse mão esquerda
ou se brutalmente se invertessem os extremos
fazendo tocar a ponta dos dedos nos pulsos
e os pulsos na ponta dos dedos num osso continuo
talvez voltasse a saber-me recomeçar
há quem procure o conforto de um corpo são
eu
aspiro a uma invalidez objectiva
qualquer coisa furiosamente concreta
que pudesse mostrar com dignidade aos que amo
inaugurando outras formas de silabar
pela deformação
o amor
não sou capaz de extrair da pele um único movimento
e é tão desesperadamente extenuante morrer
já não desejo ser peixe
nem pássaro
nem homem
nem mulher
nem réptil
nem criança-pássaro
nem criança-homem
nem criança-mullher
nem criança-réptil
quero
a liberdade de um condicionamento definitivo
uma invalidez projectada
angélica e primordial
sou inextinguível como uma chama em pânico
e grito e peço e espero
a dádiva compassiva de todo o choro terrestre
no tempo rectangular da minha eternidade condenada