domingo, novembro 14, 2004
o princípio # 16
foi a minha adolescência
lembro-me dos milhares de pequenos quadrados cerâmicos
espalhados pela sala do palácio
espreitados
recortados pela lente do olho
na passagem das fracções
de segundo entre cada fotograma
cada uma dessas quadrículas pintadas
aferventava em delírios fotográficos
guerra – mortos – vencidos caídos
cavaleiros sem bandeira balbuciando inaudíveis súplicas
os azuis traziam o odor ao sémen lusitano
e os amarelos fediam a dissimuladas camas de alcoice
chamam àqueles fragmentos de lucidez azulejos – infelizes
não são
são a própria morte revestindo paredes com um
piano ao fundo atracado a um carro de bois
em certas noites recitavam-se melodias próprias para públicos
organizados
famílias
e o pianista fardado de pianista
cravava os dedos nas teclas da coisa preta
rançoso instrumento de canto e percussão
sob os focinhos daqueles corpos envoltos em cascas de
astracã e sapatos italianos feitos em braga até baterem
palmas julgando aplaudir a música
o piano
ou o pianista –
na verdade
os embuchadores
o que aplaudiam (com prazer)
era a face retorcida daqueles dependurados féretros
trespassados sem a glória de um último beijo
naquelas noites burguesas de piano aos coices
cada uma daquelas derrotas se revivia
e cada espada reentrava nos dorsos do corcel árabe
......cada aplauso uma estucada
todos os mortos ficam para sempre desenhados a giz branco
no chão dos seus campos de batalha
ali estão eles sempre a morrer e sempre a serem aplaudidos
depois do piano
ou das audições de rendilhados poemas para senhoras
com croquetes nas bandejas
em cada um daqueles recortados quadrados cerâmicos
um soldado ainda perde a vida
e no fim da noite vinho do porto para substituir o bagaço
que tomariam secretamente no quarto –
aqueles bisontes com anéis
por cada cabeça decepada um cálice
sem deixar de rezar o pai-nosso
antes e depois de se masturbarem sentados no mogno
das casas de banho
antes e depois do táxi
antes e depois do bmw
só os assassinos
conhecem durante as suas prolongadas e insones existências
o alívio de rezar um pai-nosso
antes e depois
lembro-me dos milhares de pequenos quadrados cerâmicos
espalhados pela sala do palácio
espreitados
recortados pela lente do olho
na passagem das fracções
de segundo entre cada fotograma
cada uma dessas quadrículas pintadas
aferventava em delírios fotográficos
guerra – mortos – vencidos caídos
cavaleiros sem bandeira balbuciando inaudíveis súplicas
os azuis traziam o odor ao sémen lusitano
e os amarelos fediam a dissimuladas camas de alcoice
chamam àqueles fragmentos de lucidez azulejos – infelizes
não são
são a própria morte revestindo paredes com um
piano ao fundo atracado a um carro de bois
em certas noites recitavam-se melodias próprias para públicos
organizados
famílias
e o pianista fardado de pianista
cravava os dedos nas teclas da coisa preta
rançoso instrumento de canto e percussão
sob os focinhos daqueles corpos envoltos em cascas de
astracã e sapatos italianos feitos em braga até baterem
palmas julgando aplaudir a música
o piano
ou o pianista –
na verdade
os embuchadores
o que aplaudiam (com prazer)
era a face retorcida daqueles dependurados féretros
trespassados sem a glória de um último beijo
naquelas noites burguesas de piano aos coices
cada uma daquelas derrotas se revivia
e cada espada reentrava nos dorsos do corcel árabe
......cada aplauso uma estucada
todos os mortos ficam para sempre desenhados a giz branco
no chão dos seus campos de batalha
ali estão eles sempre a morrer e sempre a serem aplaudidos
depois do piano
ou das audições de rendilhados poemas para senhoras
com croquetes nas bandejas
em cada um daqueles recortados quadrados cerâmicos
um soldado ainda perde a vida
e no fim da noite vinho do porto para substituir o bagaço
que tomariam secretamente no quarto –
aqueles bisontes com anéis
por cada cabeça decepada um cálice
sem deixar de rezar o pai-nosso
antes e depois de se masturbarem sentados no mogno
das casas de banho
antes e depois do táxi
antes e depois do bmw
só os assassinos
conhecem durante as suas prolongadas e insones existências
o alívio de rezar um pai-nosso
antes e depois