quinta-feira, novembro 11, 2004
o princípio # 14
pastelaria alfacinha – lisboa
esta pastelaria
com cheiro a bolos e pão lavado
é visitada por uma gorda pintada de preto - encarnação
de um diabo ainda não inventado ou de um anjo
habitador do reino das patas de elefante
toda ela se senta com o peso de um esmagador
trovão de arame preto
atado em rabo-de-cavalo como se fosse cabelo
a coisa tem um olhar de martelo e uma gruta bocal
........quando a abre
engole gigantes tartes de nata como se injectasse vacas
nua
estaria pendurada de cabeça para baixo num inferno de bosh
amarrada pelos seus pés de cisterna
e na garganta-algeroz
um funil
servindo de túnel para a prazente passagem de banha
.......de homem
até ao sufoco
costumo vê-la pelas seis e meia da manhã
às vezes às sete e pouco
e a visão de tal criatura medieval exerce sobre mim tal
borrão de susto que já cheguei a temer a sua sofreguidão
coleccionadora de hominídeos
quando era criança a minha mãe levou-me
a visitar as gaiolas das araras no jardim zoológico
da visita só pânico medo choro e súplicas de fuga
o barulho que essas canoras pestes produziam em uníssono
só se equiparou nestes trinta anos que entretanto se passaram
aos vocalizos da diaba
quando ela se abre em grito
sinto renascer aquele pânico de infantil
as mãos param-se-me os olhos turvam-se
a pastelaria
fica a cheirar a papagaio
já há dias que a torcionária não aparece
naquele espaço rectangular
templário
até se ouvem pequenas liras no pão com manteiga
sente-se amor como um espaço aberto entre o café e o leite
nos galões
nas suas ausências
sei que sou o paquiderme substituto
mas em silêncio
que a minha voz não tem – ainda
(julgo)
o poder mágico de encher gaiolas de araras em trovoada
esta pastelaria
com cheiro a bolos e pão lavado
é visitada por uma gorda pintada de preto - encarnação
de um diabo ainda não inventado ou de um anjo
habitador do reino das patas de elefante
toda ela se senta com o peso de um esmagador
trovão de arame preto
atado em rabo-de-cavalo como se fosse cabelo
a coisa tem um olhar de martelo e uma gruta bocal
........quando a abre
engole gigantes tartes de nata como se injectasse vacas
nua
estaria pendurada de cabeça para baixo num inferno de bosh
amarrada pelos seus pés de cisterna
e na garganta-algeroz
um funil
servindo de túnel para a prazente passagem de banha
.......de homem
até ao sufoco
costumo vê-la pelas seis e meia da manhã
às vezes às sete e pouco
e a visão de tal criatura medieval exerce sobre mim tal
borrão de susto que já cheguei a temer a sua sofreguidão
coleccionadora de hominídeos
quando era criança a minha mãe levou-me
a visitar as gaiolas das araras no jardim zoológico
da visita só pânico medo choro e súplicas de fuga
o barulho que essas canoras pestes produziam em uníssono
só se equiparou nestes trinta anos que entretanto se passaram
aos vocalizos da diaba
quando ela se abre em grito
sinto renascer aquele pânico de infantil
as mãos param-se-me os olhos turvam-se
a pastelaria
fica a cheirar a papagaio
já há dias que a torcionária não aparece
naquele espaço rectangular
templário
até se ouvem pequenas liras no pão com manteiga
sente-se amor como um espaço aberto entre o café e o leite
nos galões
nas suas ausências
sei que sou o paquiderme substituto
mas em silêncio
que a minha voz não tem – ainda
(julgo)
o poder mágico de encher gaiolas de araras em trovoada