domingo, outubro 03, 2004
Contadores de Caracteres - Carta ao Presidente
Ex.mo Senhor
Presidente da Câmara Municipal de Évora
Dr. José Ernesto d’Oliveira
Justificando o meu pedido de apoio à autarquia a que preside
para a edição deste terceiro número dos cadernos de fotografia:
krauser
por razões que não sei explicar,
razões que ainda estão por estudar –
quem é que ainda se interessa por estas coisas? – évora, essa
mesma do templo de diana, da igreja católica e da sua inquisição
a antiga e a actual
a do pc imperial e do seu teatro de objectos,
essa mesma,
foi palco de uma extraordinária actividade tipográfica, operária, durante
muitos
muitos
anos e que dura até hoje. bem…
até hoje não é bem assim, a partir de certa altura
as tipografias deixaram de ser tipografias para serem
aquilo a que chamam
a
si
próprias:
................* gráficas
objectivo foi claro e alcançado: arrecadar trabalho de ‘concepção gráfica’
aproveitando os sofetuéres informáticos ‘prontos a usar’
e
mão de obra (ainda) mais barata.
aconteceu por todo o lado.
descaracterizaram-se aqueles lugares de labor
perdeu-se uma coisa que hoje toda a gente faz-de-conta que não existe nem nunca existiu
a consciência de classe
mas também o que é que isso interessa.
volte ao princípio s.f.f.
em évora, essa mesma em que está a pensar,
há muitas tipografias
e uma litografia
quase todas transformadas em “gráficas”
muito do seu antigo espólio foi deitado fora
roubado
vendido
........... ao desbarato
“levado” por - como dizer - coleccionadores
etc.
juntamente com o extermínio da diversidade na imprensa eborense
as tipografias locais
(com excepção de duas:
a gráfica eborense, editora do jornal a defesa da igreja católica e
de uma miríade de pequenos jornais de paróquia de todo o alentejo
e a gráfica do diário do sul)
foram dedicando os seus dias a outras coisas:
cartazes das festas de verão (aqueles
onde se reproduzem milhares de logótipozinhos de lojas)
touradas
campanhas eleitorais sem política
noites de faduncho
e outras tarefas que só de as nomear…
e
principalmente, dedicaram-se a
cair
nas boas graças das autarquias
pois é delas que vem o grosso dos rendimentos
algumas coisas ficaram
máquinas ainda a trabalhar:
poderosas heidelberg de impressão a uma e duas cores
guilhotinas krauser de arrepiar os dedos dos mais corajosos
e
a memória
e a experiência de alguns homens de excepção
operários desse nome nas fábricas de imprimir papéis
se na vida,
esta a que temos direito,
vale a pena lembrar pessoas
para
como disse o mário dionísio
viver com alguma dignidade numa sociedade que não a tem
aqui ficam nomes
de alguns desses operários
que ainda operam
a ópera dos caracteres
mestre francisco pomar – gráfica eborense
mestre justo maria nabais – litografia diana
joão caeiro e josé domingos – gráfica eborense
trabalhadores das novas histórias de caracteres
já não de chumbo
contadores de caracteres luminosos
da luz do ecrã dos seus computadores
jacinto palaio – gráfica eborense
delicado aferidor de cores
comandante de um couraçado impressor
poeta da força manual com que navega a sua
gigante
heidelberg
e
mestre edmundo cajana - gráfica eborense
que já não trabalhando
transporta ainda nos olhos a força das suas mãos limpas
sujas com tinta
a eles estes cadernos são dedicados
e é esta a justificação (se tal é necessária)
da edição deste terceiro número.
* a inclusão de ......... corresponde a espaços no original
FMG
22-09-2004
Presidente da Câmara Municipal de Évora
Dr. José Ernesto d’Oliveira
Justificando o meu pedido de apoio à autarquia a que preside
para a edição deste terceiro número dos cadernos de fotografia:
krauser
por razões que não sei explicar,
razões que ainda estão por estudar –
quem é que ainda se interessa por estas coisas? – évora, essa
mesma do templo de diana, da igreja católica e da sua inquisição
a antiga e a actual
a do pc imperial e do seu teatro de objectos,
essa mesma,
foi palco de uma extraordinária actividade tipográfica, operária, durante
muitos
muitos
anos e que dura até hoje. bem…
até hoje não é bem assim, a partir de certa altura
as tipografias deixaram de ser tipografias para serem
aquilo a que chamam
a
si
próprias:
................* gráficas
objectivo foi claro e alcançado: arrecadar trabalho de ‘concepção gráfica’
aproveitando os sofetuéres informáticos ‘prontos a usar’
e
mão de obra (ainda) mais barata.
aconteceu por todo o lado.
descaracterizaram-se aqueles lugares de labor
perdeu-se uma coisa que hoje toda a gente faz-de-conta que não existe nem nunca existiu
a consciência de classe
mas também o que é que isso interessa.
volte ao princípio s.f.f.
em évora, essa mesma em que está a pensar,
há muitas tipografias
e uma litografia
quase todas transformadas em “gráficas”
muito do seu antigo espólio foi deitado fora
roubado
vendido
........... ao desbarato
“levado” por - como dizer - coleccionadores
etc.
juntamente com o extermínio da diversidade na imprensa eborense
as tipografias locais
(com excepção de duas:
a gráfica eborense, editora do jornal a defesa da igreja católica e
de uma miríade de pequenos jornais de paróquia de todo o alentejo
e a gráfica do diário do sul)
foram dedicando os seus dias a outras coisas:
cartazes das festas de verão (aqueles
onde se reproduzem milhares de logótipozinhos de lojas)
touradas
campanhas eleitorais sem política
noites de faduncho
e outras tarefas que só de as nomear…
e
principalmente, dedicaram-se a
cair
nas boas graças das autarquias
pois é delas que vem o grosso dos rendimentos
algumas coisas ficaram
máquinas ainda a trabalhar:
poderosas heidelberg de impressão a uma e duas cores
guilhotinas krauser de arrepiar os dedos dos mais corajosos
e
a memória
e a experiência de alguns homens de excepção
operários desse nome nas fábricas de imprimir papéis
se na vida,
esta a que temos direito,
vale a pena lembrar pessoas
para
como disse o mário dionísio
viver com alguma dignidade numa sociedade que não a tem
aqui ficam nomes
de alguns desses operários
que ainda operam
a ópera dos caracteres
mestre francisco pomar – gráfica eborense
mestre justo maria nabais – litografia diana
joão caeiro e josé domingos – gráfica eborense
trabalhadores das novas histórias de caracteres
já não de chumbo
contadores de caracteres luminosos
da luz do ecrã dos seus computadores
jacinto palaio – gráfica eborense
delicado aferidor de cores
comandante de um couraçado impressor
poeta da força manual com que navega a sua
gigante
heidelberg
e
mestre edmundo cajana - gráfica eborense
que já não trabalhando
transporta ainda nos olhos a força das suas mãos limpas
sujas com tinta
a eles estes cadernos são dedicados
e é esta a justificação (se tal é necessária)
da edição deste terceiro número.
* a inclusão de ......... corresponde a espaços no original
FMG
22-09-2004