segunda-feira, junho 07, 2004
a empresa # 25
"the essential is no longer visible" - Heiner Müller
aqui estou nesta posição intermédia
espécie dissidente da existência vulnerável
aos objectos
aos furos às posições e ao mau estado
do coração a bater depressa demais
restrito impulso de amor
sem voltar à idade dos sóis e das ardósias
o tempo levou-me às ruas mais bonitas
aos museus às celebrações da manhã
às floristas a quem pagava pelos amores-perfeitos
na companhia desse cruel adolescente que fui
inspirei o odor a café fresco das cafetarias
chaimite –
essas lojas perfumadas de café moçambicano
que lisboa acolhe como promessa duvidosa
de viagens drogadas pelos candeeiros –
lembro-me de uns bom-bons em forma de coração dourado
onde cardíacos outros três órgãos explosivos
nas três cores francesas
decoravam o seu meio
bom-bons que se partiam ao meio
como aquelas medalhas americanas que os namorados
dos filmes
trocam
partem
nos bailes de debutantes
em promessas eternas de amor efémero
esses chocolates – e que bom é ainda dizê-lo –
o meu irmão louro guardava secretamente na gaveta
direita da sua secretária de madeira envernizada
à espera que eu os roubasse
e eu roubava à espera que ele descobrisse o delito
e me amasse ainda mais
e me quisesse para sempre seu amor fraterno
amante e glorificado
esse seu quarto será para sempre a minha luz de paraíso
como te amo meu irmão perdido
e agora
vestido de preto neste deserto de pedra e covas arqueológicas
existo com a felicidade de me lembrar de ti
agarrado ao meu corpo infantil na areia de um mar
conhecido
aqui estou nesta posição intermédia
espécie dissidente da existência vulnerável
aos objectos
aos furos às posições e ao mau estado
do coração a bater depressa demais
restrito impulso de amor
sem voltar à idade dos sóis e das ardósias
o tempo levou-me às ruas mais bonitas
aos museus às celebrações da manhã
às floristas a quem pagava pelos amores-perfeitos
na companhia desse cruel adolescente que fui
inspirei o odor a café fresco das cafetarias
chaimite –
essas lojas perfumadas de café moçambicano
que lisboa acolhe como promessa duvidosa
de viagens drogadas pelos candeeiros –
lembro-me de uns bom-bons em forma de coração dourado
onde cardíacos outros três órgãos explosivos
nas três cores francesas
decoravam o seu meio
bom-bons que se partiam ao meio
como aquelas medalhas americanas que os namorados
dos filmes
trocam
partem
nos bailes de debutantes
em promessas eternas de amor efémero
esses chocolates – e que bom é ainda dizê-lo –
o meu irmão louro guardava secretamente na gaveta
direita da sua secretária de madeira envernizada
à espera que eu os roubasse
e eu roubava à espera que ele descobrisse o delito
e me amasse ainda mais
e me quisesse para sempre seu amor fraterno
amante e glorificado
esse seu quarto será para sempre a minha luz de paraíso
como te amo meu irmão perdido
e agora
vestido de preto neste deserto de pedra e covas arqueológicas
existo com a felicidade de me lembrar de ti
agarrado ao meu corpo infantil na areia de um mar
conhecido