quarta-feira, junho 02, 2004
a empresa # 18
"the essential is no longer visible" - Heiner Müller
para o.m.
um dia conheci um homem que falava com harpas falantes
um homem que fabricava cartolas mágicas
– desenhador de sóis que um dia foi palhaço noutro país
depois
à minha volta fechou-se o meu olhar a ele
e ele deixou de haver
quando o conheci ele voava e
aprendia a tocar flauta para abdicar de tocar flauta
como tinha aprendido a tocar banjo para abdicar de tocar banjo
e comia gelados, e tomava aspirinas para que o sangue fluísse
e ria-se, ria-se, ria-se... ia-se...ia-se...com eco
e às vezes zangava-se...gava-se...gava-se com eco
tinha uma mochila preta, e uma caneta
e um kazoo encantador de actores no bolso de uma casaca
e óculos-de-ver-ao-pé
e ria, ria, ria, ria... ia...ia...com eco
conheci-o numa noite quente
nas últimas noites quentes de évora
em que fui pessoa
num repente fundamental das horas a acontecer na pele
nessa noite tudo foi noite
e barbas e cabelos brancos
e risos, risos, risos, risos... isos...isos...isos com eco
noite em que me vi na minha pequena vida dilatada
e percebi ser possível orar às coisas boas
aos deuses do corpo
da voz
e do amor
para o.m.
um dia conheci um homem que falava com harpas falantes
um homem que fabricava cartolas mágicas
– desenhador de sóis que um dia foi palhaço noutro país
depois
à minha volta fechou-se o meu olhar a ele
e ele deixou de haver
quando o conheci ele voava e
aprendia a tocar flauta para abdicar de tocar flauta
como tinha aprendido a tocar banjo para abdicar de tocar banjo
e comia gelados, e tomava aspirinas para que o sangue fluísse
e ria-se, ria-se, ria-se... ia-se...ia-se...com eco
e às vezes zangava-se...gava-se...gava-se com eco
tinha uma mochila preta, e uma caneta
e um kazoo encantador de actores no bolso de uma casaca
e óculos-de-ver-ao-pé
e ria, ria, ria, ria... ia...ia...com eco
conheci-o numa noite quente
nas últimas noites quentes de évora
em que fui pessoa
num repente fundamental das horas a acontecer na pele
nessa noite tudo foi noite
e barbas e cabelos brancos
e risos, risos, risos, risos... isos...isos...isos com eco
noite em que me vi na minha pequena vida dilatada
e percebi ser possível orar às coisas boas
aos deuses do corpo
da voz
e do amor