quarta-feira, junho 02, 2004
a capital
"the essential is no longer visible" - Heiner Müller
Caro Luís Osório,
Todos recebemos com alegria a notícia da renovação da velha ‘A Capital’.
À sua volta – Luís Osório – gerou-se uma estranha (estranha para Portugal) consensualidade sobre a qualidade do seu trabalho como jornalista (e agora noutras àreas...não é verdade?) e, em consequência disso, uma alegria generalizada pelo facto de o projecto ter ficado ‘em boas mãos’.
‘A Capital’ é o jornal sobrevivente de um trio de vespertinos de eleição (juntamente com o ‘Diário de Lisboa’ e o ‘Diário Popular’). ‘A Capital’ é o que resta, pelo menos como símbolo, de uma velha e prestigiada escola de jornalismo, feita de coragem de opinião, de reflexões profundas, de seriedade editorial – de princípio editorial. Os últimos anos d’A Capital’ não foram famosos. Pior, foram terríveis para o jornal, para a sua memória, para a honra dos seus fundadores e, muito especialmente, para os seus leitores. É por isso compreensível que no caso do DL, Ruella Ramos, tivesse decidido fechar o ‘Lisboa’, não fosse a ele acontecer a mesma coisa que ao seu colega ‘A Capital’.
A vossa responsabilidade é muito grande e ainda bem. Ou conseguem criar com este novo projecto um espaço de respiração e diferença – menos que isso não vale a pena – ou ao jornal será decretada morte definitiva.
Ao ler esta ‘nova’ Capital, para além de manter a bola vermelha no título, há uma evidente preocupação em honrar a memória do que de melhor o jornal tinha, de forma a apagar a hecatombe dos últimos anos. Ao mesmo tempo fazem uma mistura com o ‘ar’ do DL, na forma de organizar as colunas, de apresentar os colaboradores, etc., mas procurando criar o desenho do que poderá vir a ser a marca deste novo tempo do jornal.
Este projecto conta com algumas facilidades evidentes para o seu arranque. Tem uma equipa pequena, gente que se conhece, empenhada num esforço de solidariedade e entre-ajuda, sem pressão de grandes tiragens (à partida). Que bom que assim é.
Para que o trabalho continue e seja assumida a responsabilidade a que se propuseram não é preciso o elogio tão descarado aos seus cronistas, como ontem (1 de Junho) o Luís fez no seu artigo. Já sabemos que ‘muito prometem’, ou que têm um ‘humor genial’. O que é preciso é que assumam o projecto de uma imprensa alicerçada num forte compromisso com a liberdade. Está isso garantido entre vós? Se não estiver, mesmo que seja com colaboradores menos ‘geniais’, mas profundamente empenhados na liberdade de pensamento, esta nova ‘A Capital’ já valerá a pena.
Fraternalmente,
Frederico Mira George
Caro Luís Osório,
Todos recebemos com alegria a notícia da renovação da velha ‘A Capital’.
À sua volta – Luís Osório – gerou-se uma estranha (estranha para Portugal) consensualidade sobre a qualidade do seu trabalho como jornalista (e agora noutras àreas...não é verdade?) e, em consequência disso, uma alegria generalizada pelo facto de o projecto ter ficado ‘em boas mãos’.
‘A Capital’ é o jornal sobrevivente de um trio de vespertinos de eleição (juntamente com o ‘Diário de Lisboa’ e o ‘Diário Popular’). ‘A Capital’ é o que resta, pelo menos como símbolo, de uma velha e prestigiada escola de jornalismo, feita de coragem de opinião, de reflexões profundas, de seriedade editorial – de princípio editorial. Os últimos anos d’A Capital’ não foram famosos. Pior, foram terríveis para o jornal, para a sua memória, para a honra dos seus fundadores e, muito especialmente, para os seus leitores. É por isso compreensível que no caso do DL, Ruella Ramos, tivesse decidido fechar o ‘Lisboa’, não fosse a ele acontecer a mesma coisa que ao seu colega ‘A Capital’.
A vossa responsabilidade é muito grande e ainda bem. Ou conseguem criar com este novo projecto um espaço de respiração e diferença – menos que isso não vale a pena – ou ao jornal será decretada morte definitiva.
Ao ler esta ‘nova’ Capital, para além de manter a bola vermelha no título, há uma evidente preocupação em honrar a memória do que de melhor o jornal tinha, de forma a apagar a hecatombe dos últimos anos. Ao mesmo tempo fazem uma mistura com o ‘ar’ do DL, na forma de organizar as colunas, de apresentar os colaboradores, etc., mas procurando criar o desenho do que poderá vir a ser a marca deste novo tempo do jornal.
Este projecto conta com algumas facilidades evidentes para o seu arranque. Tem uma equipa pequena, gente que se conhece, empenhada num esforço de solidariedade e entre-ajuda, sem pressão de grandes tiragens (à partida). Que bom que assim é.
Para que o trabalho continue e seja assumida a responsabilidade a que se propuseram não é preciso o elogio tão descarado aos seus cronistas, como ontem (1 de Junho) o Luís fez no seu artigo. Já sabemos que ‘muito prometem’, ou que têm um ‘humor genial’. O que é preciso é que assumam o projecto de uma imprensa alicerçada num forte compromisso com a liberdade. Está isso garantido entre vós? Se não estiver, mesmo que seja com colaboradores menos ‘geniais’, mas profundamente empenhados na liberdade de pensamento, esta nova ‘A Capital’ já valerá a pena.
Fraternalmente,
Frederico Mira George