terça-feira, maio 18, 2004
a empresa # 8
"the essential is no longer visible" - Heiner Müller
as pálpebras redobram-se tentando expelir os invasores
as tuas sobrancelhas prendem-se nas minhas
encaixam
todas as dores e todos os risos se espalham pelos mastros
gosto de nadar dentro do que em ti é água fria
caminhar ao lado dos teus pés inchados
como se fugisse ainda crisálida
das páginas infernais de um livro coleccionador de borboletas
deixo que o sangue preencha o espaço vazio das rosas
e nos faça transbordar as mãos
dantes
abríamos a boca em simultâneo
deixávamos cair o cabelo na água
ríamos
tanto – abençoada existência animal –
hoje
há hélices remexendo sangue
há a invisibilidade de um gato marcando o mosaico
branco e preto do chão do pátio
há uma palmeira a oxidar e
um deus mais pequeno que um macaco a saltar nas costas da buganvília
o imã iniciou a oração no topo da gaiola
é o fim do nosso encontro vespertino
é o último suspiro do nosso fechar de olhos
hora de espalhar mel pelas pernas
hora de rejeitar a oração entoada pelo santo
hora de partir os ossos ao pássaro antes de o comer
é a hora de partir o
cálice
onde nos depusemos
e nos deixámos beber por trepadeiras
sentimos ainda os últimos espancamentos no peito?
as últimas sombras?
o gato correrá na direcção da tua cabeça
amarrar-te-á a boca com os cabelos
procurando mais tarde o meu prazer em vê-lo
inspiradamente lento suado imenso leão vitorioso a guerrear
até que o menino nasça as flores se despeguem
até que o primeiro choro se ouça
até que seja livro a história deste parto
as pálpebras redobram-se tentando expelir os invasores
as tuas sobrancelhas prendem-se nas minhas
encaixam
todas as dores e todos os risos se espalham pelos mastros
gosto de nadar dentro do que em ti é água fria
caminhar ao lado dos teus pés inchados
como se fugisse ainda crisálida
das páginas infernais de um livro coleccionador de borboletas
deixo que o sangue preencha o espaço vazio das rosas
e nos faça transbordar as mãos
dantes
abríamos a boca em simultâneo
deixávamos cair o cabelo na água
ríamos
tanto – abençoada existência animal –
hoje
há hélices remexendo sangue
há a invisibilidade de um gato marcando o mosaico
branco e preto do chão do pátio
há uma palmeira a oxidar e
um deus mais pequeno que um macaco a saltar nas costas da buganvília
o imã iniciou a oração no topo da gaiola
é o fim do nosso encontro vespertino
é o último suspiro do nosso fechar de olhos
hora de espalhar mel pelas pernas
hora de rejeitar a oração entoada pelo santo
hora de partir os ossos ao pássaro antes de o comer
é a hora de partir o
cálice
onde nos depusemos
e nos deixámos beber por trepadeiras
sentimos ainda os últimos espancamentos no peito?
as últimas sombras?
o gato correrá na direcção da tua cabeça
amarrar-te-á a boca com os cabelos
procurando mais tarde o meu prazer em vê-lo
inspiradamente lento suado imenso leão vitorioso a guerrear
até que o menino nasça as flores se despeguem
até que o primeiro choro se ouça
até que seja livro a história deste parto