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sexta-feira, março 12, 2004

os mortos de madrid 

"the essential is no longer visible" - Heiner Müller

caro vital moreira,

a espanha está em choque.
alguns estão genuinamente em choque.
outros não sei.
calculo que homens como aznar, homens que fazem da guerra o seu alimento – homens desses, estarão contentes.

desde ontem que se repete: «foi a eta».
os senhores da guerra querem que tenha sido a eta a cometer os atentados de madrid.
o 11 de março será para asnar, o que o 11 de setembro foi para bush: uma arma de arremesso.

a morte de civis, a morte de militares, a morte violenta, qualquer morte violenta, é sempre uma face do horror. mesmo as mortes que os terroristas de estado – com altos-patrocínios de conselhos de segurança, ou sem eles – promovem sob o nome de “operações de paz” ou “libertação”, são uma face do horror apocalíptico, o soar do armagedon.

OS TERRORISTAS E OS RESISTENTES

ao longo dos séculos muitos povos foram ocupados por potências estrangeiras, que os colonizaram, mataram, humilharam, escravizaram.
pouco antes da II grande guerra, o estado basco, foi vitima da brutal ocupação do seu país pelas forças franquistas ajudadas pelas bombas de hitler.
uns anos depois a também a frança seria ocupada pelos nazi-fascistas.
muitos anos depois, muitos,
timor
foi tomado pelas violentas tropas indonésias.
os ocupantes,
passam a ser outros.
o povo de timor foi barbaramente assassinado e,
tal como o povo basco,
impedido de falar a sua língua, de ser religiosamente livre, pior, de se auto-determinar.

pelos anos 50, vários movimentos compostos por mulheres e homens de todas as nacionalidades da africa colonizada, começou a organizar-se para a sua independência.
como todos sabemos, alguns desses países eram colónias de portugal.

para os regimes ocupantes, os movimentos que resistiram a essa violência, foram, sem distinção, apelidados de “terroristas” e tratados como tal.

alguns desses países recuperaram a sua liberdade.
por isso os terroristas franceses passaram a “resistentes”,
por isso os terroristas africanos passaram a “resistentes”,
por isso os terroristas timorenses passaram a “resistentes”.
outros países não recuperaram ainda a sua liberdade e o seu direito à auto-determinação,
esses, como é o caso dos bascos,
continuam organizados em movimentos de luta pela sua libertação,
esses, são ainda “terroristas”.

a escolha da luta armada e da violência pela auto-determinação não é a solução correcta.
em caso algum.
sabemos,
deveríamos saber,
que a arma escolhida
deve ser a solidariedade entre os povos, a cooperação entre os povos.
Deveríamos saber que não podemos ser livres se outro alguém não é.
a responsabilidade é nossa. arma escolhida só pode ser a fraternidade.

não tenhamos dúvidas que a responsabilidade do “terrorismo” basco passa pela “democracia” espanhola e francesa.
se franco e a sua ditadura fez cativa a independência basca, a democracia não a quis devolver.

hoje que choramos os mortos de madrid, deveríamos chorar os mortos de guernica. hoje que choramos os mortos de madrid, deveríamos chorar todos os mortos que caíram lutando pela liberdade.
no estado espanhol,
na palestina,
onde for.
e agir, agir sempre, ao lado dos que lutam pela dignidade.
somos nós que nos libertamos sempre que alguém rompe a teia que o subjuga.

hoje que choramos pelos mortos de madrid, reflictamos sobre o que fizemos para pela liberdade basca? o que fizemos para evitar todas as violências?

querer confundir a acção da eta com acções armadas de inspiração integrista de fanáticos religiosos, ou mesmo confundir as acções da eta com acções inspiradas pelo fanatismo religioso que usa outras bombas, como o fundamentalismo que condena as mulheres que abortam ao cárcere, que outrora condenou judeus, cientistas e pensadores ao fogo da inquisição e que hoje prefere a contaminação pela sida de milhares de homens e mulheres recusando-lhes a informação e os meios para que se salvem – confundir a eta com esses terroristas, é ser cúmplice da violência e do terror.

senhor aznar,
apesar de desesperadamente querer ganhar as eleições de domingo, apesar de querer fazer do 11 de março um álibi para a repressão, saiba que continuará sempre a encontrar “resistentes” lutando contra a sua politica agressora, contra as guerras de que é co-autor.

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