domingo, fevereiro 29, 2004
“podia morrer nos teus olhos amada rádio”
"the essential is no longer visible" - Heiner Müller
“podia morrer nos teus olhos amada rádio”
ouço
soprado ao ouvido
“aqui estamos nós / homens sujeitos ao tempo”,
os versos de ruy belo que abriram
pela a voz de fernando alves,
a primeira emissão,
pirata,
da tsf.
“tomar a palavra, que queremos limpa e artesanal”,
assim se declarou a casa da rádio, num domingo de junho de 84
(com o diário de notícias, hoje, um cd com a memória da telefonia sem fios. a rádio bissexta, a rádio que quis ler o mundo. do fim da rua, ao fim do mundo.)
em cada segundo antigo, se espelha o que foi feito passado da melhor de todas as estações. a casa dos murmúrios e dos gritos. a casa de todos os sons, palavras e silêncios. a casa agora,
perdida no negócio, a rádio que esqueceu a possibilidade do ócio.
a casa
rádio
que hoje - dia em que oferece em cd a sua memória de elefante – mais não é que uma cópia de si mesma. um palimpsesto dos momentos dourados:
“postigo aberto”; “intima fracção”
e
de
anjos dourados
(fernando alves; joão paulo guerra; emídio rangel (porque se disfarçou ele do medo de si próprio, ao espelho);
francisco amaral;
sena santos…
e
outros
anjos que a casa da rádio, silenciosamente, vai assassinando.
“sabemos todos os nomes do medo e da alegria”
“susana dorme sozinha no palácio”
onde estão os dias da rádio que a telefonia anunciava?
onde estão os anjos, o ouro e as pausas?
onde estão as palavras sem mácula, limpas e artesanais?
“está tudo bem assim e não podia ser de outra forma” [salazar]?
“já corremos de mãos dadas
a mais secreta noite do mundo”
onde estão os lugares de encontro e as vozes?
tantas horas na madrugada, noites de cigarras doidas, horas de noite e lua.
“de novo o grande sobressalto”
387 04 06 – a linha
que aprendia mais mundo,
“postigo aberto” para a “intima fracção”.
horas clandestinas, véus e deslumbres.
“entrevistas com retrato” : “argumentos” , lúcidos, de joão paulo baltazar.
botas cardadas – timor
25 de abril em 25 horas – lugares de palmeiras e acácias
&
portugueses de gema
carlos júlio, antónio jorge branco…
…tsf em chinês…
…rádio sem fios,
amarrada agora nas teias de um tal comércio sem vergonha
de músicas enlatadas: idades da inocência e tais sucedâneos que.
dormes sozinha no palácio da terra dos incas – susana
o teu marido
o presidente fuji, el-chino, na terra dos eleitos
deixou-te só na floresta de pedra e segredo
como a rádio, hoje, dorme na promessa de voltar –
paulo alves guerra
“lições de vida” – fronteira de galegos
embaciadas janelas de igreja – ana catarina santos com
montagens de alexandrina guerreiro.
tsf – adeus!
“já corremos de mãos dadas
a mais secreta noite do mundo
já subimos ao alto da montanha
sabemos todos os nomes do medo e da alegria
em ti me transcendo
podia morrer nos teus olhos
se nestes dias de cigarras doidas
perderes de vista o meu coração vagabundo
dá-me um sinal
abraçar-nos-emos de novo
antes dos rigorosos frios
de novo o grande sobressalto
o formidável estremecimento dos instantes felizes
podia morrer nos teus olhos amada rádio”
fernando alves
“podia morrer nos teus olhos amada rádio”
ouço
soprado ao ouvido
“aqui estamos nós / homens sujeitos ao tempo”,
os versos de ruy belo que abriram
pela a voz de fernando alves,
a primeira emissão,
pirata,
da tsf.
“tomar a palavra, que queremos limpa e artesanal”,
assim se declarou a casa da rádio, num domingo de junho de 84
(com o diário de notícias, hoje, um cd com a memória da telefonia sem fios. a rádio bissexta, a rádio que quis ler o mundo. do fim da rua, ao fim do mundo.)
em cada segundo antigo, se espelha o que foi feito passado da melhor de todas as estações. a casa dos murmúrios e dos gritos. a casa de todos os sons, palavras e silêncios. a casa agora,
perdida no negócio, a rádio que esqueceu a possibilidade do ócio.
a casa
rádio
que hoje - dia em que oferece em cd a sua memória de elefante – mais não é que uma cópia de si mesma. um palimpsesto dos momentos dourados:
“postigo aberto”; “intima fracção”
e
de
anjos dourados
(fernando alves; joão paulo guerra; emídio rangel (porque se disfarçou ele do medo de si próprio, ao espelho);
francisco amaral;
sena santos…
e
outros
anjos que a casa da rádio, silenciosamente, vai assassinando.
“sabemos todos os nomes do medo e da alegria”
“susana dorme sozinha no palácio”
onde estão os dias da rádio que a telefonia anunciava?
onde estão os anjos, o ouro e as pausas?
onde estão as palavras sem mácula, limpas e artesanais?
“está tudo bem assim e não podia ser de outra forma” [salazar]?
“já corremos de mãos dadas
a mais secreta noite do mundo”
onde estão os lugares de encontro e as vozes?
tantas horas na madrugada, noites de cigarras doidas, horas de noite e lua.
“de novo o grande sobressalto”
387 04 06 – a linha
que aprendia mais mundo,
“postigo aberto” para a “intima fracção”.
horas clandestinas, véus e deslumbres.
“entrevistas com retrato” : “argumentos” , lúcidos, de joão paulo baltazar.
botas cardadas – timor
25 de abril em 25 horas – lugares de palmeiras e acácias
&
portugueses de gema
carlos júlio, antónio jorge branco…
…tsf em chinês…
…rádio sem fios,
amarrada agora nas teias de um tal comércio sem vergonha
de músicas enlatadas: idades da inocência e tais sucedâneos que.
dormes sozinha no palácio da terra dos incas – susana
o teu marido
o presidente fuji, el-chino, na terra dos eleitos
deixou-te só na floresta de pedra e segredo
como a rádio, hoje, dorme na promessa de voltar –
paulo alves guerra
“lições de vida” – fronteira de galegos
embaciadas janelas de igreja – ana catarina santos com
montagens de alexandrina guerreiro.
tsf – adeus!
“já corremos de mãos dadas
a mais secreta noite do mundo
já subimos ao alto da montanha
sabemos todos os nomes do medo e da alegria
em ti me transcendo
podia morrer nos teus olhos
se nestes dias de cigarras doidas
perderes de vista o meu coração vagabundo
dá-me um sinal
abraçar-nos-emos de novo
antes dos rigorosos frios
de novo o grande sobressalto
o formidável estremecimento dos instantes felizes
podia morrer nos teus olhos amada rádio”
fernando alves