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segunda-feira, fevereiro 02, 2004

O Inimigo Público 

"the essential is no longer visible" - Heiner Müller

“o inimigo público” é o único órgão de comunicação social verdadeiramente fiável da imprensa portuguesa. digo isto sem problemas de consciência.

desde que rui zink assumiu a provedoria dos leitores, “o inimigo publico” tornou-se um colo materno para todos os que têm olhos e podem ler em papel impresso. é que um leitor sofre muito, tem muitos problemas de estômago e de fígado e até, de tanto choro cara abaixo, muitos problemas de pele. fica muito salgada a cútis, depois de uma leitura concentrada. pior, o expresso, por exemplo, chega a cegar. há mesmo quem defenda que o avião onde seguiam o sr.carneiro e o sr. costa – os srs. ministros – caiu para esbarrar de trombas em camarate, não por atentado, não por falha técnica, mas devido a uma suicídio colectivo depois de uma sessão de leitura criativa, encenada a bordo para passar o tempo, por iniciativa do próprio sr. carneiro, que irreflectidamente propôs o “expresso” como material dramático. os pilotos foram os únicos que não leram, mas como ouviram deu no mesmo. agora com o nosso provedor, rui zink, tenho a certeza da impossibilidade de ali virem a serem publicados textos do marcelo rebelo de sousa, do pacheco pereira, do luís delgado, do miguel portas, da anabela mota ribeiro, do fernando rosas, do josé antónio saraiva, do lobo antunes, da laurinda alves, do mário bettencourt resendes, do… daquele pá, aquele que escreve no coiso… não tas a ver pá? esse pois. só há um problema com o “ip”, é que tem de se comprar o público para o ler e com isto não estamos livres do josé manuel fernandes.

além disso, no “ip” escrevem os melhores dramaturgistas do humor em portugal: a ficha tripla, nuno costa santos, luís filipe borges e tiago rodrigues. agora que o stand-up tragedy acabou, é um lugar privilegiado para os não perder d’olho.

as noticias do “ip” são verdadeiras. eles dizem que não que é por causa dos processos, mas todos sabemos que são aquelas as verdadeiras notícias do país e do mundo. só ali podemos encontrar o país real. a verdadeira história (o corrector do pc tinha-me mudado história para hóstia) da casa pia, do iraque, do maravilhoso e fraterno mundo do futebol, da vida privada da celeste cardona, dos filmes do paulo portas, das filhas dos ministros no ensino superior. à verdadeira história da vida sexual de joão bosco da mota amaral

agora que o lenine, o marx, o trotsky, o júlio pinto e o féher estão mortos, se um dia acabarem com o “ip”, como vamos saber o que se passa? já imaginaram se (longe vá o agouro) voltamos a ter que ler a visão? a visão, que o melhor que tem é o pequeno formato que se adapta muito bem a qualquer casa de banho em momentos de concentração.

não devemos esquecer que é no “ip” que são publicados os cartoons do mais desengraçado humorista português, nuno markl. tão desengraçado que é das poucas pessoas com quem conseguimos rir. desde o fim da “filosofia de ponta” que não eram postas à reflexão popular as questões que verdadeiramente dizem respeito ao quotidiano. “há vida em markl” é o espelho das nossas ansiedades, das razões da nossa impotência. é preciso compreender que é pelo facto de o nuno markl não saber o que há de fazer para ter graça, que tem graça. porque assim ele tem que recorrer aos dramas da alma nacional. aos dilemas dos portugueses. aos seus dilemas que são os dilemas de todos nós, povo português.

estou em crer que a vida não nos iria pregar a partida de termos que voltar à impressa feita por jornalistas. já que a vida se tornou nesta amalgama de bandalheiras desumanas, pois que os jornais passem a ser feitos por argumentistas, escritores, filósofos, artistas plásticos, gráficos. enfim gente inteligente. a gente que pode afinal salvar esta coisa terrestre a que chamamos planeta.







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