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quinta-feira, fevereiro 26, 2004

"dio è con noi" 

"the essential is no longer visible" - Heiner Müller

recebi por e-mail, a mensagem dos bispos diocesanos, maurilio de gouveia, arcebispo de évora e amândio tomás, bispo auxiliar da arquidiocese de évora.

transcrevo dois parágrafos da mensagem, que me parecem reveladores do propósito da mesma:

Mensagem dos Bispos Diocesanos:

A Quaresma e defesa da vida e da dignidade da pessoa humana

A Igreja de Deus, guiada pelo Espírito, sua ‘memória viva’, revive, na fé, o mistério dos 40 dias (Quadragésima) de oração e jejum de Jesus “levado pelo Espírito ao deserto” (Lc 4,1) e todo o mistério, de prova e de consagração à vontade do Pai, que se manifesta na vida pública do Senhor, desde o baptismo de penitência a que se sujeitou, no rio Jordão, até ao ‘baptismo’ da morte, a que livremente se entregou por nós em sacrifício, salvando-nos pelo seu Mistério Pascal.

A Quaresma orienta para o sacrifício da cruz e para o triunfo pascal, de modo que não há jejum, oração e esmola que não provenham dum profundo desejo de conversão e para esta se orientem. A Páscoa pressupõe a Quaresma, que começa com o rito da imposição das cinzas e vai até ao Tríduo Pascal. A Quaresma é o tempo propício para a conversão, para a reflexão e diálogo com Deus, na oração e para a partilha com os irmãos necessitados.

[…]
Já o Concílio Vaticano II dizia há 40 anos: “são infames as seguintes coisas: tudo quanto se opõe à vida, como seja toda a espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário; tudo o que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violentar as próprias consciências; tudo quanto ofende a dignidade da pessoa humana, como as condições de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e jovens; e também as condições degradantes de trabalho, em que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis. Todas estas coisas e outras semelhantes são infamantes; ao mesmo tempo que corrompem a civilização humana, desonram mais aqueles que assim procedem, do que os que padecem injustamente; e ofendem gravemente a honra devida ao Criador” ( Gaudium et spes, 27 ).


mais uma vez, a igreja toma a sua posição da forma mais brutal e intolerante, ao arrepio do próprio espírito da quadra religiosa que os católicos vivenciam, a quaresma. o facto, é que a igreja afirma, e reafirma, considerar as mulheres que interrompem voluntariamente a gravidez: homicidas, portanto criminosas, compara-as a torcionários, violadores, proxenetas, exploradores de trabalho infantil, genocídas, etc.

Enfim, nesta mensagem, os bispos declaram “infames” as mulheres que praticam a interrupção voluntária da gravidez.

não haja dúvidas sobre as intenções deste “edital” de condenação pública. a igreja continua afastada do seu povo, persiste na condenação como arma de controle do seu rebanho, aplica sanções ao serviço das suas conveniências. outrora foram bruxas e judeus (os judeus, não há tanto tempo como isso, não nos esqueçamos da amizade entre o papa pio XII e os regimes nazis da alemanha e itália durante a II grande guerra).

um dia, um papa, num futuro qualquer, vai ajoelhar-se, vestido de branco, e cruz na mão, e pedirá desculpa pelo mal que “esta” igreja causou. declarará que estavam enganados… não foi assim com galileu, com a inquisição, com o tal papa nazi? será tarde, fieis servos de… deus?

p.s.: não deixa de ser inteligente a maneira como os bispos de évora, colocam as palavras da condenação na boca do concílio do vaticano II, como forma subtil de neutralizar as vozes mais humanas da comunidade católica. como se todos ignorássemos a pressão e condicionamento dos sectores mais fundamentalistas da igreja, que este papa - joão paulo II - bem representa, contra o movimento de regeneração iniciado por joão XXIII. pena é que não se lembrem de citar mais passagens das “resoluções” do vaticano II, especialmente aquelas que os incomodam, aquelas que dizem respeito à libertação dos homens e das mulheres, justamente, através da prática religiosa. mas o integrismo fanático sempre foi assim.





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