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domingo, janeiro 18, 2004

MULHERZINHA XI-XIS 

a escrita é uma arma/eu bem dizia/tudo depende da bala/e da pontaria/tudo depende da raiva/e da alegria/a escrita é uma arma/de pontaria/há quem escreva por interesse/há quem escreva por escrever/há quem faça profissão de combater a escrever - a partir de poema de José Mário Branco

Diário de Imagens "Saudades de Antero"

esta extraordinária sociedade de inteligência em que vivemos está a refinar-se.
agora nos centros comerciais, introduziu-se um novo conceito de comércio. o comercio maridinho-mulherzinha. e assim, a mesma loja, de um lado tem motas, do outro artigos para bebés, ou ainda, de um lado telemóveis e do outro perfumes. o maridinho vai prás motas/telémoveis, a mulherzinha para os pijaminhas/perfuminhos.
é o comercio azul-rosa.

a moda também pegou no jornalismo, quer dizer nos jornais. o “público”, ao sábado segue o mesmo conceito azul-rosa. trás dois suplementos. sentados no sofá, de um lado o maridinho lê o “mil-folhas”, do outro lado a mulherzinha lê a revista “xis”. no entanto, o maridinho tem um bónus: tb lê o desporto. à mulherzinha é dada permissão para ler em conjunto com o maridinho a programação televisiva.

o “mil-folhas” é um excelente suplemento cultural. um produto jornalístico de imensa qualidade, aliás o único suplemento cultural digno desse nome, a “xis” um verdeiro “cozinha para mulheres” agora em versão pós moderna.

sob o chapéu da bela-escrita, tipo belo canto, aconselham-se as mulherezinhas a serem felizes, a saber casar, a ter relações sexuais satisfatórias, a cozinhar jantarinhos exóticos e a educar os filhos. um verdadeiro compêndio para a mulherzinha.

no fim da revista têm-se direito a um blogue do daniel sampaio, falando das tias mortas, das infâncias com o mano, dos livrinhos, tudo disfarçado de ficção.

como leio as revistas e os jornais do fim para o principio, quando acabo de folhear a “xis” dou com as cartinhas da laurinda alves, sempre muito avisadas, ponderadas, responsáveis e excepcionalmente bem escritas. a avaliar pelas palavras laurindianas, os filhos da jornalista devem ser os adolescentes mais equilibrados do mundo. só pode.

é no entanto no espaço “gente xis” que a coisa se torna verdadeiramente emocionante. ali aparecem as mais betinhas, bem-sucedidas e emancipadíssimas mulheres da cena lusófona. no “gente xis” desta semana, dei com uma mecinha, bem parecida, bem vestida, bem maquiada, bem fotografada, de cabelos longos caídos sobre uns ombros nus em fundo vermelho. uma arquitecta e (um mal nunca vem só) designer. um artista portuguesa.

nesta rubrica, fazem uma série de perguntas, estilo questionário de verão, vocês sabem, já todos passámos a vista pela “xis”: “ser feliz é…”, “lema de vida?”, “qualidade que mais gosta num homem?”, etc. coisas importantíssimas de saber. a arrematar, questiona-se a “gente xis” sobre os valores fundamentais. esta moça, inês cortesão de sua graça, deu esta resposta: “inconformismo, protesto, revolução…” e, por momentos, aquela página estilo “tv 7 dias” toma um pedaço de interesse. para logo o perder, é que a arquitecta e, não nos podemos esquecer, designer, acrescenta, com um humor de tirar o fôlego a plateias, “estou a brincar! [ah, ah, ah, ah, ah, que gozona!] família, saúde, educação.

que arquitecta e, não nos podemos esquecer, designer, galhofona, né?

será que esta rapariga fica contente com estas coisitas que diz? será que é assim tão bom para o negócio alarvar estas frases do mais primário conservadorismo?
e a revista “xis”, irá continuar? é que se um dia deixar de ser editada, o que vão dos sábados as mulherzinhas de portugal que têm vergonha de comprar “marias”?

se calhar só lhes resta xi-xis cama.



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