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segunda-feira, dezembro 01, 2003

Stand-Up Tragedy, o Dilema 

"queria de ti um país de bondade e de bruma/queria de ti o mar de uma rosa de espuma" - Mário Cesariny

Diário de Imagens "Saudades de Antero"

Para o Luís Filipe Borges, para o Nuno Costa Santos, para o Tiago Rodrigues,

Caros Amigos,

O DILEMA.

Ter dilemas na casa dos trintas é muito chato. É quase como nos dizerem num dia «tens um cancro nos pulmões» e no outro «távamos a reinar». Nos trintas não se brinca com certas coisas. É que só se volta tranquilizar aos quarentas e com ajuda de filmes do Woody Allen (com a Diane Keaton), à noite, na televisão e com comida indiana.

Vocês criaram-me um dilema. Quer dizer, criaram um espectáculo e um blogue, vocês não fizeram por mal, queriam fazer alguma coisa, conheciam-se, eu percebo, são mesmo coisas que acontecem, arranjaram dinheiro, puseram "AXAs*" na fogueira, sacaram o Maria Matos, o Blogue é de borla. Pronto, é uma coisa normal.

O problema é meu. Não vos estou a culpar de nada. Quem sou eu?

Quando vi o cartaz do "Stand-Up Tragedy" e dei com os postfree, disse: «olha vou ver isto». Quando dei com o Blogue, disse: «olha vou ler isto e depois vou ver aquilo», o "S.U.T." E isso é que lixou tudo.

Mas não foi por mal, hã? Vocês fizeram tudo bem. O que aconteceu é que ao ler os vossos textos me identifiquei tanto com as vossas questões e com as respostas que não encontravam que comecei a preocupar-me convosco, com o espectáculo. Ao jantar pensava, «os gajos estarão a dar a volta aquilo?»; «O Tenente tem pano para fazer o fato do Tiago?»; «Como é que o gajo se vai aguentar sozinho num teatro daquele tamanho?»; «Ele não é Frank Sinatra, não tem orquestra, como será que a mãe dele vai reagir?»

Caí no erro de vos continuar a ler e deixar que isso interferisse com as minhas emoções mais íntimas. Sobre tudo porque percebi que vocês estavam a fazer um trabalho sério. Isso então custou-me imenso. Apareciam-me frases na noite, fluorescentes, como aquelas estrelinhas que se colam no tecto: «Eles não estão a brincar!», «Como todos nós que trabalhamos no teatro, eles não sabem o que fazem, mas tentam saber!», «Eles já devem estar a fumar demais!», «Eles não estão a comer como deve ser!». Um inferno de noites!

O processo que vocês descrevem no Blogue, sobre a construção deste espectáculo, é tão reflectido, verdadeiro, sincero e inteligente, que comecei a desenhar um espectáculo na minha cabeça que certamente não é o espectáculo que vocês montaram. O «Ricardo Magalhães*» da minha cabeça não é, não pode ser, o «Ricardo Magalhães» que está no Maria Matos. E se eu vou ver o espectáculo e dou com um "Ricardo Magalhães" sem interesse nenhum. Porque é que não fico por aqui? Afinal já existe um «Stand-Up Tragedy», criado por mim a partir dos textos do vosso Blogue. Esse «S.U.T». não é secundário em relação ao outro. São dois. São mesmo dois. Um na minha cabeça, outro lá, todas as noites. Se vejo os dois, um pode destruir o outro, destrói de certeza e eu estou atravessar uma altura da minha vida em que não posso passar por essas coisas.

Mas ainda estive na fila da FNAC para comprar bilhetes. Mas quando chegou a minha vez não fui capaz. Aliás já me estava a sentir mal à uma meia-hora. Não sei o que fazer. É demasiado duro. É que uma pessoa envolve-se muito.

Por enquanto, o Tarot disse-me que ficasse só pelo Blogue. Que é mais prudente. Aqui junto ao computador tenho um postal do espectáculo. Amanhã o Tiago Rodrigues vai ao "Pessoal e Transmissível" (é amanhã não é?) na TSF. Vou ouvir e depois logo resolvo não ir e arrepender-me para sempre.

Vosso amigo,
Frederico

* AXA - Patrocinador do espectáculo.
* Ricardo Magalhães, a personagem do espectáculo.

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