domingo, dezembro 07, 2003
HORA DO DIABO 26
"O fumo do meu lar, nas tardes nervosas de Outono, parece animado duma louca inspiração escultora de anjos e fantasmas." - Teixeira de Pascoaes
Diário de Imagens "Saudades de Antero"
“CIDADE”
“Sou um efémero e não excessivamente descontente cidadão duma metrópole que julgam moderna porque foi evitada toda a estereotipia no mobiliário e na fachada das casas, como no plano geral da cidade. Aqui não ficou rasto de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua enfim reduzidas à sua expressão mais simples! Estes milhões de pessoas que não tem qualquer necessidade de se conhecerem, levam com tal paralelismo a educação, a profissão e a velhice, que o seu tempo de vida deve ser muitas vezes inferior àquele que uma estatística louca encontrou para os povos do continente. Tal como, desde a minha janela, vejo novos fantasmas deslizando pelo espesso e contínuo fumo de carvão, - nossa sobra campestre, nossa noite de estio! – novas Erínias diante do cotage que é toda a minha pátria e todo o afecto, já que tudo aqui é igual a si mesmo, - uma Morte sem lágrimas, nossa activa filha e criada, um amor desesperado e um lindo Crime ganindo na lama da rua.”
Jean-Arthur Rimbaud, “Iluminações”.
Tradução Mário Cesariny
Diário de Imagens "Saudades de Antero"
“CIDADE”
“Sou um efémero e não excessivamente descontente cidadão duma metrópole que julgam moderna porque foi evitada toda a estereotipia no mobiliário e na fachada das casas, como no plano geral da cidade. Aqui não ficou rasto de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua enfim reduzidas à sua expressão mais simples! Estes milhões de pessoas que não tem qualquer necessidade de se conhecerem, levam com tal paralelismo a educação, a profissão e a velhice, que o seu tempo de vida deve ser muitas vezes inferior àquele que uma estatística louca encontrou para os povos do continente. Tal como, desde a minha janela, vejo novos fantasmas deslizando pelo espesso e contínuo fumo de carvão, - nossa sobra campestre, nossa noite de estio! – novas Erínias diante do cotage que é toda a minha pátria e todo o afecto, já que tudo aqui é igual a si mesmo, - uma Morte sem lágrimas, nossa activa filha e criada, um amor desesperado e um lindo Crime ganindo na lama da rua.”
Jean-Arthur Rimbaud, “Iluminações”.
Tradução Mário Cesariny