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sábado, dezembro 20, 2003

HORA DA FÉNIX 34 

"O fumo do meu lar, nas tardes nervosas de Outono, parece animado duma louca inspiração escultora de anjos e fantasmas." - Teixeira de Pascoaes

Todos sabemos que pai que joga à bola é uma grande alegria para o filho. Na verdade alegria, alegria, é o pai jogar à bola mas mal. Assim, eles podem regozijar-se com as magnificas performances que a velhice proporciona e sentirem-se verdadeiros pélés – é melhor arranjar um mais novo – verdadeiros ruis costas.

Mas uma coisa pode correr mal na vida das crianças. Algo que lhes pode estragar a vida e remeter os seus corpos, quando adultos, para o divã do psicanalista: o pai não joga bem à bola; o pai não joga mal à bola; O PAI NÃO JOGA À BOLA. É o meu caso!

Esta manhã o meu filho levou-me ao parque infantil. Dentro de um saco de plástico (do pingo doce!!! Anda um pai a criar um filho…) levava uma bola e umas luvas de guarda redes. Eu já ia desconfiado, as luvas, a bola, estão a ver? um chuta outro defende… hã? Dois..ele…eu. EU?????????????

Bem, eu já tinha chutado umas bolas, há… há… vinte anos? Viiinte cinco…? Ai!

Já tinha “brincado” com uma bola com o menino, na praia, neste parque, etc. Mas agora a coisa não é brincar, é jogar à bola, e ele toma-se de um profissionalismo no alto dos seus oito anos, que…

Não me deu espaço para grandes súplicas, dei por mim e já lá estava a chutar no esférico, sobre o relvado do parque, direito ao meio de umas traves, duas horizontais uma verti… não duas verticais e uma horizontal, acho que é isso, chamam-lhe b-a-l-i-z-a. BALIZA, aprendam: ba-li-za!

Como ao fim de vinte minutos não conseguia alinhar o trajecto da bola, ela ia-me para todos os lados, com excepção da ba-li-za. O petiz veio ter comigo, e ali mesmo, encetou o seu papel de tutor de homens com retardamentos físicos, experiências adolescentes em atraso, eu sei lá.

Ao fim de uma hora de dissertações sobre a temática do foot-ball, quer dizer, do futebol, deu-se o rapaz por satisfeito, e com alguma tolerância para com o seu pai diferente, disse: “Tu até jogas bem”.

Fiquei uns momentos calado, com o sorriso no canto da orelha, e saiu-me pela boca o mais baixo dos golpes sujos. É o arrependimento por essa atitude repugnante, que escrevo estas linhas. É que antes de abandonarmos o campo da abada, disse-lhe: “Vamos embora que tens de ir fazer os trabalhos de casa”.

Foi.

Estou arrependido, sim, mas não fiquem a pensar que a coisa ficou sem resposta: “Até parece que aquilo [os trabalhos de casa] custam alguma coisa!”

Há manhãs em que um pai não deve sair à rua com um filho com bola!

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