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terça-feira, dezembro 09, 2003

HORA DA FÉNIX 26 - HORA DO DIABO 28 - LISBOA 

"O fumo do meu lar, nas tardes nervosas de Outono, parece animado duma louca inspiração escultora de anjos e fantasmas." - Teixeira de Pascoaes

Diário de Imagens "Saudades de Antero" (brevemente)

Aos alunos do curso Técnico de Design
da Escola Profissional Bento Jesus Caraça-Évora
Anos Lectivos de 1996/1999


Ainda a geminação Évora - Chartres e do último texto plublicado neste blogue sobre o assunto, recupero uns textos que escrevi em 1998, por altura da feira de S. João, em Évora, para a exposição dos trabalhos dos meus alunos, executados a partir dos misteriosos frescos do Paço Vasco da Gama.

Aproveito para publicar um excerto da carta que o Mestre Lagoa Henriques me enviou antes da conferência conjunta sobre este assunto, no Museu de Évora:

A CARTA

"...ao receber a vossa carta, onde vinham escritos os vossos nomes,
pensei que todos vós teriam rostos e vidas próprias,
conheciam-me e eu não os conhecia, e fiquei fascinado.
Quem seriam vocês, alunos e professores dessa escola distante?
Que mágico lugar esse, o das Casas Pintadas de Évora, que permitiu o nosso encontro?..."

Mestre Lagoa Henriques

In conferência sobre o desenho dos frescos das
Casas Pintadas de Évora,
Museu de Évora-1998


SOBRE O NOSSO TRABALHO SOBRE AS "CASAS PINTADAS"

Passados os dias dos encantos, essas tardes de sol invernoso em que pegámos em lápis e pincéis, em que a nossa fala foi o silêncio, ficou uma lembrança ténue de um pequeno claustro cheio de verde, onde a água se deixava adivinhar e onde sobre uma parede de cal se iluminavam aos nossos olhos de aprendizes, frescos pintados pelo tempo. Águias, Dragões, uma Hydra apocalíptica de sete cabeças cruzadas, um Pelicano cristico devorando o seu próprio peito, Fenix renascida de um fogo invisível. Tantas imagens, símbolos indecifráveis, que ouvimos e lemos com a adivinhação própria do acto de criar e re-criar pelo desenho.

Passados esses dias invernosos, ficaram lembranças ternas, de rostos com nomes, de termos habitado esse pequeno claustro perdido no embaraçado serpentear das ruas de Évora.


AS CASAS PINTADAS DE ÉVORA

Os Frescos do pequeno claustro das Casas Pintadas em Évora, são pinturas secretas, porventura mediadoras da nossa relação entre a realidade consciente e a realidade dos sonhos.

Na verdade ao entrar neste templo de interrogações e de incógnitas, penetramos num universo desconcertante e perturbador. Apocalíptico. Mítico. Arquetípico.

Quem tem as chaves do entendimento destas pinturas? Quando foram feitas e com que propósito? Quem... Quando...?

Trabalhar o monumento que são as Casas Pintadas de Évora, é saber não ter certezas, voar sem as defesas aparentes dos dogmas históricos e documentais.

É ser livre e só, face ao monumento.

Talvez a sensibilidade, a disponibilidade e a vulnerabilidade na observação, permitam estabelecer um dialogo com as pinturas através da linguagem poética.

Não há percursos pré traçados. Entre o observador e o monumento só existe o vazio. O monumento torna-se anti-momumento e o peso da sua monumentalidade – iluminação . Não há senão um imenso tempo ligando gerações a gerações, tão simbolicamente representado pelos "Laços do Amor" pintados no tecto do claustro.

Procurando o sentido das pinturas o observador descobre que, citando Fernando Pessoa e o poema "Eros e Psique":

"[...]

E, inda tonto do que houvera,

Á cabeça, em maresia,

Ergue a mão, e encontra hera,

E vê que ele mesmo era

A Princesa que dormia."


Frederico Mira George .'.
Évora, Solstício de Verão 1998

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