segunda-feira, dezembro 01, 2003
HORA DA FÉNIX 18
"queria de ti um país de bondade e de bruma/queria de ti o mar de uma rosa de espuma" - Mário Cesariny
Diário de Imagens “Saudades de Antero”
Aos Irmãos Guardas do Selo (em memória da tarde de chuva que foi a de 29/11/2003)
Sempre me senti uma pessoa secreta, secreta para mim próprio. Noto que os outros se assustam com isso. Ao contrário do que se pensa, ser secreto, não é estar a esconder alguma coisa dos outros. Esse é o significado banal que se dá ao segredo. Não! Ser secreto, pode ser, entre muitas outras coisas, olhar “a face oculta de uma descoberta”. Repare-se como é paradoxal esta frase, o oculto no que se desocultou. Quer dizer, aquilo tendo sido encontrado não foi ainda revelado. Antes de encontrarmos o tesouro, deparamo-nos com o baú onde ele se oculta. É ainda preciso ter a chave da arca, ou saber usá-la. A chave é um segredo, o tesouro é um segredo, a revelação não.
A palavra segredo vem do latim, “secretus”, que quer dizer separado, particular. Portanto, um segredo é uma seita de algo mais vasto, é um segmento da descoberta.
É também uma informação ou conhecimento a que apenas alguns devem ter acesso e que os seus detentores não devem comunicar. Coisa possível de honrar ou de trair. Como extremos opostos que são (a honra de um segredo e a traição do mesmo), tocam-se, nem sei se o sinal é diferente. Seja como for, mais uma vez, o segredo, surge como fracção, uma “informação”, um “conhecimento”, que só alguns devem ter acesso. Assim, o segredo não é a Verdade revelada, pois a Verdade não pode ser sectarizada. “O Sol quando nasce é para todos”.
Há uma expressão muito interessante: “Segredo da Abelha”, que se refere a algo extremamente secreto, um mistério. Segundo esta expressão, o segredo pode atingir proporções de infinita separação, de “micro-seita”. Algo que está tão separado da Verdade, que se torna invisível até à própria Verdade, mesmo sendo parte dela.
Daí que uma pessoa secreta, é um ser que ainda não se revelou, que ainda não despertou, apesar de ter encontrado, como um clarão de luz, uma porta para o despertar. Mas como ainda se encontra no terreno do segredo, do segmento, precisa encontrar a chave, ou tendo-a encontrado, aprender a manejá-la. A chave da porta do “Santo dos Santos”, onde repousa “arca”, o tesouro da verdadeira Iluminação. Será a “Arca da Aliança” dos Judeus? O “Stupa” dos Budistas? O “Coração” dos Budas? A “Mortalha” de Cristo?
Na história da arte dos homens, uma pintura de Francis Bacon (ver Diário de Imagens), aparece-me como uma verdadeira catedral edificada ao sacrifício do segredo: “Três Estudos para uma Crucificação” – 1944. É uma das primeiras pinturas de Francis Bacon, e a marca da pessoa secreta que foi até à morte.
Diário de Imagens “Saudades de Antero”
Aos Irmãos Guardas do Selo (em memória da tarde de chuva que foi a de 29/11/2003)
Sempre me senti uma pessoa secreta, secreta para mim próprio. Noto que os outros se assustam com isso. Ao contrário do que se pensa, ser secreto, não é estar a esconder alguma coisa dos outros. Esse é o significado banal que se dá ao segredo. Não! Ser secreto, pode ser, entre muitas outras coisas, olhar “a face oculta de uma descoberta”. Repare-se como é paradoxal esta frase, o oculto no que se desocultou. Quer dizer, aquilo tendo sido encontrado não foi ainda revelado. Antes de encontrarmos o tesouro, deparamo-nos com o baú onde ele se oculta. É ainda preciso ter a chave da arca, ou saber usá-la. A chave é um segredo, o tesouro é um segredo, a revelação não.
A palavra segredo vem do latim, “secretus”, que quer dizer separado, particular. Portanto, um segredo é uma seita de algo mais vasto, é um segmento da descoberta.
É também uma informação ou conhecimento a que apenas alguns devem ter acesso e que os seus detentores não devem comunicar. Coisa possível de honrar ou de trair. Como extremos opostos que são (a honra de um segredo e a traição do mesmo), tocam-se, nem sei se o sinal é diferente. Seja como for, mais uma vez, o segredo, surge como fracção, uma “informação”, um “conhecimento”, que só alguns devem ter acesso. Assim, o segredo não é a Verdade revelada, pois a Verdade não pode ser sectarizada. “O Sol quando nasce é para todos”.
Há uma expressão muito interessante: “Segredo da Abelha”, que se refere a algo extremamente secreto, um mistério. Segundo esta expressão, o segredo pode atingir proporções de infinita separação, de “micro-seita”. Algo que está tão separado da Verdade, que se torna invisível até à própria Verdade, mesmo sendo parte dela.
Daí que uma pessoa secreta, é um ser que ainda não se revelou, que ainda não despertou, apesar de ter encontrado, como um clarão de luz, uma porta para o despertar. Mas como ainda se encontra no terreno do segredo, do segmento, precisa encontrar a chave, ou tendo-a encontrado, aprender a manejá-la. A chave da porta do “Santo dos Santos”, onde repousa “arca”, o tesouro da verdadeira Iluminação. Será a “Arca da Aliança” dos Judeus? O “Stupa” dos Budistas? O “Coração” dos Budas? A “Mortalha” de Cristo?
Na história da arte dos homens, uma pintura de Francis Bacon (ver Diário de Imagens), aparece-me como uma verdadeira catedral edificada ao sacrifício do segredo: “Três Estudos para uma Crucificação” – 1944. É uma das primeiras pinturas de Francis Bacon, e a marca da pessoa secreta que foi até à morte.