segunda-feira, novembro 17, 2003
“OS GRANDES DISSIDENTES”
queria de ti um país de bondade e de bruma/queria de ti o mar de uma rosa de espuma - Mário Cesariny
Uma escultura de Frederico Mira George para José Mário Branco
Diário de Imagens “Saudades de Antero”
“A NOITE
Em tudo o que está fomos está o que seremos
No fundo desta noite tocam-se os extremos
E se soubermos ver nos sonhos o processo
Os passos para trás não são um retrocesso
A noite é um sinal de tudo quanto fomos
Dos medos, dos mistérios, das fadas e dos gnomos
Da ignorância pura e da ciência irmã
Em que, sendo passado, já somos amanhã
A noite é o espaço vago, o tempo sem história
Em que as perguntas nascem dentro da memória
Em tudo o que já fomos está o que seremos
Mas cabe perguntar: foi isto que quisemos?
Em tudo que já fomos está o que deixámos
No fundo das marés, nos portos que tocámos
O rumo desvendado, o preço da bagagem
É tudo quanto resta para seguir viagem
A noite é parideira da contradição
Que existe em cada sim que nos parece não
Olhando para nós, os grandes dissidentes
No meio da luta entre lemes e correntes
Será esta viagem feita pelo vento
Será feita por nós, amor e pensamento
O sonho é sempre sonho se nos enganarmos
Mas cabe perguntar: como é que aqui chegamos?
Em tudo que já fomos estão os nossos mortos
E os vivos que ficaram entram nos seus corpos
Na noite do amor, na noite do sinal
Naufrágio de fantasmas na pia baptismal
A noite é o impreciso e escuro purgatório
Que alinha as nossas almas no seu dormitório
A culpa dos heróis é serem sempre poucos
Acaso somos mais, ou tão somente loucos
Temos que descasar a culpa e o prazer
No que fizemos ou deixamos de fazer
Para reconstruir os corações cativos
Mas cabe perguntar: acaso estamos vivos?
Em tudo que já fomos há um sonho antigo
Conversa universal de cada um consigo
São sombras e brinquedos, tudo misturado
E o vago sentimento de nascer culpado
Será um sonho absurdo, este olhar p’ra dentro
E o nosso destino, só, servir de exemplo
Andamos a fugir à frente desta vida
Mas cabe perguntar: existe uma saída?"
José Mário Branco
Uma escultura de Frederico Mira George para José Mário Branco
Diário de Imagens “Saudades de Antero”
“A NOITE
Em tudo o que está fomos está o que seremos
No fundo desta noite tocam-se os extremos
E se soubermos ver nos sonhos o processo
Os passos para trás não são um retrocesso
A noite é um sinal de tudo quanto fomos
Dos medos, dos mistérios, das fadas e dos gnomos
Da ignorância pura e da ciência irmã
Em que, sendo passado, já somos amanhã
A noite é o espaço vago, o tempo sem história
Em que as perguntas nascem dentro da memória
Em tudo o que já fomos está o que seremos
Mas cabe perguntar: foi isto que quisemos?
Em tudo que já fomos está o que deixámos
No fundo das marés, nos portos que tocámos
O rumo desvendado, o preço da bagagem
É tudo quanto resta para seguir viagem
A noite é parideira da contradição
Que existe em cada sim que nos parece não
Olhando para nós, os grandes dissidentes
No meio da luta entre lemes e correntes
Será esta viagem feita pelo vento
Será feita por nós, amor e pensamento
O sonho é sempre sonho se nos enganarmos
Mas cabe perguntar: como é que aqui chegamos?
Em tudo que já fomos estão os nossos mortos
E os vivos que ficaram entram nos seus corpos
Na noite do amor, na noite do sinal
Naufrágio de fantasmas na pia baptismal
A noite é o impreciso e escuro purgatório
Que alinha as nossas almas no seu dormitório
A culpa dos heróis é serem sempre poucos
Acaso somos mais, ou tão somente loucos
Temos que descasar a culpa e o prazer
No que fizemos ou deixamos de fazer
Para reconstruir os corações cativos
Mas cabe perguntar: acaso estamos vivos?
Em tudo que já fomos há um sonho antigo
Conversa universal de cada um consigo
São sombras e brinquedos, tudo misturado
E o vago sentimento de nascer culpado
Será um sonho absurdo, este olhar p’ra dentro
E o nosso destino, só, servir de exemplo
Andamos a fugir à frente desta vida
Mas cabe perguntar: existe uma saída?"
José Mário Branco