sábado, novembro 22, 2003
O Barco que nãoo podia sair de casa
queria de ti um país de bondade e de bruma/queria de ti o mar de uma rosa de espuma - Mário Cesariny
Diário de Imagens “Saudades de Antero”
Numa casa da rua André Cavalo, em Évora, um rapaz, na solidão de umas férias verão, construiu um barco branco.
Desde muito pequeno que era apaixonado pelo mar. Nesse Agosto dos anos trinta, o jovem António, longe de um mar possível, sem planos para os seus dias, foi juntando madeiras e parafusos, sonhando com um barco que um dia pudesse levar para as águas oceânicas da aventura do seu maior desejo: ser marinheiro.
E a obra fez-se. António nem sentia a febre dos 47 graus que torravam a sua cidade. Tinha concluído o seu barco. Um barco de verdade! Alguns entendedores visitaram o “estaleiro” e confirmaram a capacidade de navegação do engenho: Sete metros por quatro. Detalhadamente concluído. O seu orgulho era tal que nem ousava mover-se. Para além de marinheiro era construtor de naves. Nada o podia separar dos mares, da conquista, da partida.
Chegou o dia em que o barco ia ser levado para águas de mar. O pai tinha fretado uma camioneta, coisa rara na altura. Estava tudo a postos, quando seis homens na força da vida, se deixaram vencer pela impossibilidade de fazer sair o barco da casa de António. A estreita rua André Cavalo não permitia sequer a saída de metade do barco.
Nesse dia o jovem ficou sentado à beira da sua porta, à beira do seu barco prisioneiro, à beira de uma rua sem espaço, de uma cidade sem mar, no sequeiro de um país à beira do oceano. Não chorou. Faltavam-lhe forças.
Hoje, este homem tem 80 anos, não é menos menino e continua sonhador de viagens no seu barco de verdade. A casa onde a sua “falua” ficou presa, é o seu atelier. O homem que hoje é, chama-se António Charrua, é pintor, e nos seus quadros navegou mais que muitos marinheiros. A sua vocação marítima é infinita. A sua dor também. E ainda hoje lhe faltam forças para chorar.
Diário de Imagens “Saudades de Antero”
Numa casa da rua André Cavalo, em Évora, um rapaz, na solidão de umas férias verão, construiu um barco branco.
Desde muito pequeno que era apaixonado pelo mar. Nesse Agosto dos anos trinta, o jovem António, longe de um mar possível, sem planos para os seus dias, foi juntando madeiras e parafusos, sonhando com um barco que um dia pudesse levar para as águas oceânicas da aventura do seu maior desejo: ser marinheiro.
E a obra fez-se. António nem sentia a febre dos 47 graus que torravam a sua cidade. Tinha concluído o seu barco. Um barco de verdade! Alguns entendedores visitaram o “estaleiro” e confirmaram a capacidade de navegação do engenho: Sete metros por quatro. Detalhadamente concluído. O seu orgulho era tal que nem ousava mover-se. Para além de marinheiro era construtor de naves. Nada o podia separar dos mares, da conquista, da partida.
Chegou o dia em que o barco ia ser levado para águas de mar. O pai tinha fretado uma camioneta, coisa rara na altura. Estava tudo a postos, quando seis homens na força da vida, se deixaram vencer pela impossibilidade de fazer sair o barco da casa de António. A estreita rua André Cavalo não permitia sequer a saída de metade do barco.
Nesse dia o jovem ficou sentado à beira da sua porta, à beira do seu barco prisioneiro, à beira de uma rua sem espaço, de uma cidade sem mar, no sequeiro de um país à beira do oceano. Não chorou. Faltavam-lhe forças.
Hoje, este homem tem 80 anos, não é menos menino e continua sonhador de viagens no seu barco de verdade. A casa onde a sua “falua” ficou presa, é o seu atelier. O homem que hoje é, chama-se António Charrua, é pintor, e nos seus quadros navegou mais que muitos marinheiros. A sua vocação marítima é infinita. A sua dor também. E ainda hoje lhe faltam forças para chorar.