terça-feira, novembro 18, 2003
HORA DO DIABO 7 - Lisboa, as Avenidas Novas e o sorriso Tibetano
queria de ti um país de bondade e de bruma/queria de ti o mar de uma rosa de espuma - Mário Cesariny
“São de matar as recordações,. Por isso não se deve pensar em certas coisas, naquelas que levais a peito, ou melhor é preciso pensar nelas, porque não pensando corre-se o risco de achá-las na memória, a pouco e pouco. Isto é, deve-se pensar durante um bocado, um bom bocado, todos os dias e várias vezes até que a lama as cubra duma camada intransponível.
É uma disciplina.”
Samuel Becket, in “TEXTOS PARA NADA”.
Em Lisboa o destino traz-me sempre aos mesmos lugares.
Na sala de espera do médico, olho pela janela e observo a Av. 5 de Outubro em plena hora de ponta. São insuportáveis as recordações que tenho desta zona onde vivi onze anos da minha vida. Onde passei por todos os horrores que se passam na adolescência. Logo o meu Médico havia de ter o consultório aqui e me obrigar a estas visitas semanais às avenidas novas.
No fim da consulta, saí mais apaziguado com o local. À hora de jantar todos os bairros são pardos. Ainda assim, corri para dentro de uma livraria para me lavar daquele lugar.
Entre os livros a beleza de uma pequena edição sobre os rituais de oferendas do Budismo Tibetano. Dois minutos bastaram para deixar as avenidas novas e voar até ao coração de um povo que apesar do seu martírio sabe sempre sorrir.
O resto da caminhada foi feliz. Transportado pelo odor dos incensos e pela visão quente de milhares de lamparinas acesas num “stupa”* no Nepal.
Não voltarei a sentir aquela aversão ao bairro da minha adolescência, pois no meu olhar estará sempre o olhar tranquilo dos meninos-monges de Katmandu.
*Stupa-Construção sagrada da tradição Budista
“São de matar as recordações,. Por isso não se deve pensar em certas coisas, naquelas que levais a peito, ou melhor é preciso pensar nelas, porque não pensando corre-se o risco de achá-las na memória, a pouco e pouco. Isto é, deve-se pensar durante um bocado, um bom bocado, todos os dias e várias vezes até que a lama as cubra duma camada intransponível.
É uma disciplina.”
Samuel Becket, in “TEXTOS PARA NADA”.
Em Lisboa o destino traz-me sempre aos mesmos lugares.
Na sala de espera do médico, olho pela janela e observo a Av. 5 de Outubro em plena hora de ponta. São insuportáveis as recordações que tenho desta zona onde vivi onze anos da minha vida. Onde passei por todos os horrores que se passam na adolescência. Logo o meu Médico havia de ter o consultório aqui e me obrigar a estas visitas semanais às avenidas novas.
No fim da consulta, saí mais apaziguado com o local. À hora de jantar todos os bairros são pardos. Ainda assim, corri para dentro de uma livraria para me lavar daquele lugar.
Entre os livros a beleza de uma pequena edição sobre os rituais de oferendas do Budismo Tibetano. Dois minutos bastaram para deixar as avenidas novas e voar até ao coração de um povo que apesar do seu martírio sabe sempre sorrir.
O resto da caminhada foi feliz. Transportado pelo odor dos incensos e pela visão quente de milhares de lamparinas acesas num “stupa”* no Nepal.
Não voltarei a sentir aquela aversão ao bairro da minha adolescência, pois no meu olhar estará sempre o olhar tranquilo dos meninos-monges de Katmandu.
*Stupa-Construção sagrada da tradição Budista