segunda-feira, novembro 17, 2003
HORA DO DIABO 4 - Carta ao Leonel
Díario de Imagens "Saudades de Antero"
"Caro Leonel,
Escrevo-te hoje que o frio abraçou esta cidade de espectros. Évora esmaga-nos com o frio. É como se estivéssemos a sofrer a prova que os antigos egípcios tinham que superar para serem admitidos aos mistérios de Osíris. Évora está um caverna fria de pedra e noite. Há uma solidão penetrante, um gelo no coração, uma saudade do verão e da disponibilidade com que as pessoas se encantam e se amam. No Inverno, Évora, torna-se numa infância onde tudo nos é vedado.
Regresso a casa como se estivesse em fuga. Acendo velas e incenso para me exorcizar destas noites terrestres. Este estranho rigor de pedras, este rigor que não permite as flores desabrochar e que torna as casas e as pessoas numa espécie de ilhas, é um isolamento sem fim, sem neve, sem rio, sem mar. Tudo morre para o seu nome. É difícil pensar com delicadeza. Cada pensamento torna-se uma fúria. Um arremesso.
E dedico a esta Évora que é em mim distante, um pequeno poema do Mário Cesariny:
«queria de ti um pais de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma»
um fraterno abraço
fred"
"Caro Leonel,
Escrevo-te hoje que o frio abraçou esta cidade de espectros. Évora esmaga-nos com o frio. É como se estivéssemos a sofrer a prova que os antigos egípcios tinham que superar para serem admitidos aos mistérios de Osíris. Évora está um caverna fria de pedra e noite. Há uma solidão penetrante, um gelo no coração, uma saudade do verão e da disponibilidade com que as pessoas se encantam e se amam. No Inverno, Évora, torna-se numa infância onde tudo nos é vedado.
Regresso a casa como se estivesse em fuga. Acendo velas e incenso para me exorcizar destas noites terrestres. Este estranho rigor de pedras, este rigor que não permite as flores desabrochar e que torna as casas e as pessoas numa espécie de ilhas, é um isolamento sem fim, sem neve, sem rio, sem mar. Tudo morre para o seu nome. É difícil pensar com delicadeza. Cada pensamento torna-se uma fúria. Um arremesso.
E dedico a esta Évora que é em mim distante, um pequeno poema do Mário Cesariny:
«queria de ti um pais de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma»
um fraterno abraço
fred"