domingo, novembro 23, 2003
HORA DO DIABO 11
queria de ti um país de bondade e de bruma/queria de ti o mar de uma rosa de espuma - Mário Cesariny
Diário de Imagens “Saudades de Antero”
O homem e o menino subiram as estreitas escadas de caracol que do claustro inferior dão acesso ao claustro superior da catedral de Santa Maria de Évora. A Sé, o ninho das gralhas - os corvos que merecemos.
Para o homem era uma fuga, para o menino o prazer supremo de passear com o pai. Subiram a escada de caracol. O menino não teve medo, o homem agarrou-se como pode ao pilar central da escada. Chegaram ao telhado, o menino, deslumbrado, olhava os telhados da cidade procurando a sua casa. Para ele, aquela viagem era um voo. O homem sentiu-se o condutor da passarola voadora do velho Bartolomeu.
Procuraram os corvos. Procuraram e procuraram e procuraram e procuraram. Mas nada O homem e o filho procuraram-nos tanto… os pombos tomaram conta dos claustros.
A Rosa-Cruz estava interdita por fitas vermelhas e brancas; as gralhas escondidas; os túmulos dos bispos afastados dos olhares dos peregrinos…que fazer afinal? Como explicar ao menino a ausência dos símbolos da catedral da Senhora do Ó?
Desceram a escada, o homem aflito explicou e explicou e explicou e explicou. O menino compreendera a sua presença naquele lugar sem ser necessária qualquer explicação, mas o homem insistia em explicar o inexplicável. O menino aceitava o discurso do pai com complacência. Afinal para ele, pequeno mago, era mais importante estar ali com o homem-pai, do que qualquer outra coisa. Que importava a ausência dos corvos, a invisibilidade da Rosa-Cruz, a fuga da Senhora do Ó ou a ingerência perturbadora dos pombos? Estava com o seu pai, o desejo mais desejado.
À saída perguntou se podiam ir aos sinos. O homem respondeu-lhe (sem ter a certeza), que já estava fechada a subida para a flecha da catedral.
“Então está resolvido, voltamos cá amanhã!”, sentenciou a criança.
E assim será, amanhã estarão os dois, de mãos dadas, junto aos sinos.
“Onde vive o corcunda?”
“No tesouro! Amanhã, amanhã, vamos ver isso tudo!”
Diário de Imagens “Saudades de Antero”
O homem e o menino subiram as estreitas escadas de caracol que do claustro inferior dão acesso ao claustro superior da catedral de Santa Maria de Évora. A Sé, o ninho das gralhas - os corvos que merecemos.
Para o homem era uma fuga, para o menino o prazer supremo de passear com o pai. Subiram a escada de caracol. O menino não teve medo, o homem agarrou-se como pode ao pilar central da escada. Chegaram ao telhado, o menino, deslumbrado, olhava os telhados da cidade procurando a sua casa. Para ele, aquela viagem era um voo. O homem sentiu-se o condutor da passarola voadora do velho Bartolomeu.
Procuraram os corvos. Procuraram e procuraram e procuraram e procuraram. Mas nada O homem e o filho procuraram-nos tanto… os pombos tomaram conta dos claustros.
A Rosa-Cruz estava interdita por fitas vermelhas e brancas; as gralhas escondidas; os túmulos dos bispos afastados dos olhares dos peregrinos…que fazer afinal? Como explicar ao menino a ausência dos símbolos da catedral da Senhora do Ó?
Desceram a escada, o homem aflito explicou e explicou e explicou e explicou. O menino compreendera a sua presença naquele lugar sem ser necessária qualquer explicação, mas o homem insistia em explicar o inexplicável. O menino aceitava o discurso do pai com complacência. Afinal para ele, pequeno mago, era mais importante estar ali com o homem-pai, do que qualquer outra coisa. Que importava a ausência dos corvos, a invisibilidade da Rosa-Cruz, a fuga da Senhora do Ó ou a ingerência perturbadora dos pombos? Estava com o seu pai, o desejo mais desejado.
À saída perguntou se podiam ir aos sinos. O homem respondeu-lhe (sem ter a certeza), que já estava fechada a subida para a flecha da catedral.
“Então está resolvido, voltamos cá amanhã!”, sentenciou a criança.
E assim será, amanhã estarão os dois, de mãos dadas, junto aos sinos.
“Onde vive o corcunda?”
“No tesouro! Amanhã, amanhã, vamos ver isso tudo!”