sábado, novembro 22, 2003
HORA DO ANJO 9 - Mário Viegas
queria de ti um país de bondade e de bruma/queria de ti o mar de uma rosa de espuma - Mário Cesariny
Diário de Imagens “Saudades de Antero”
Desde pequeno que me levavam a salas de teatro. Vi muitos espectáculos, mas a primeira vez que vi TEATRO, foi a primeira vez que vi o Mário Viegas.
Creio que o Mário Viegas é a mais importante referência do teatro português contemporâneo. Não só pelo seu génio, mas porque na sua vida não havia separação entre ele, homem, e ele, artista. E na arte só pode ser assim, apesar de ser raro.
Quando se soube da notícia da sua morte, no dia 1 de Abril de 1996, muita gente julgou que era uma mentira lançada pelo próprio. Bem capaz disso seria ele. A Manuela de Freitas, no depoimento que escreveu para o livro editado pela Cinemateca, conta:
“1 de Abril de 1996. O empregado serviu-me uma bica com um sorriso cúmplice e um olhar malandro, “Li no jornal, o Sr. Mário Viegas…”. “Foi, pois… Ele já estava doente…”. “Ah… É mesmo verdade? Pensei que era mentira do 1º de Abril. Daquelas coisas que só ele…”. Em silêncio, levou a chávena vazia.”
Mas foi, morreu no dia das mentiras, e com ele o teatro da alma e da coragem, da provocação, da verdade e da beleza.
“Penso que, neste fim de século, o mundo está à espera de uma espiritualidade, que nunca mais chega. E em Portugal, estamos pior: não esperamos nada.
As minhas inclinações politicas estão todas ditas. Dizem que acabou a esquerda e a direita e por isso há agora uma nova geração que ficou a pairar no ar, sem utopias. Esta gente não tem nada para lutar. Acreditam no sexo, na droga, na violência e na estupidificação. Foi o que lhes fizeram. E não estou a vera oposição a mudar isto.
Pergunta-me qual é a minha ideologia política e eu respondo-lhe que é a rebeldia.
Se é duro uma pessoa não se deixar absorver pelo sistema? Depende. Porque não há UM sistema.” M.V.
Quando fui ver o “Europa Não, Portugal Nunca”, na sala da Companhia Teatral do Chiado - S. Luíz, (mais tarde Teatro Estúdio Mário Viegas), tive a perfeita noção de estar a viver um momento único, brilhante, de uma lucidez aterradora. Já a morte se anunciava no seu corpo mas nunca na sua actuação. Mário Viegas não morreu como actor. Por isso, aquilo do 1º de Abril não deixa de ser verdade. Só o corpo nos traiu.
Diário de Imagens “Saudades de Antero”
Desde pequeno que me levavam a salas de teatro. Vi muitos espectáculos, mas a primeira vez que vi TEATRO, foi a primeira vez que vi o Mário Viegas.
Creio que o Mário Viegas é a mais importante referência do teatro português contemporâneo. Não só pelo seu génio, mas porque na sua vida não havia separação entre ele, homem, e ele, artista. E na arte só pode ser assim, apesar de ser raro.
Quando se soube da notícia da sua morte, no dia 1 de Abril de 1996, muita gente julgou que era uma mentira lançada pelo próprio. Bem capaz disso seria ele. A Manuela de Freitas, no depoimento que escreveu para o livro editado pela Cinemateca, conta:
“1 de Abril de 1996. O empregado serviu-me uma bica com um sorriso cúmplice e um olhar malandro, “Li no jornal, o Sr. Mário Viegas…”. “Foi, pois… Ele já estava doente…”. “Ah… É mesmo verdade? Pensei que era mentira do 1º de Abril. Daquelas coisas que só ele…”. Em silêncio, levou a chávena vazia.”
Mas foi, morreu no dia das mentiras, e com ele o teatro da alma e da coragem, da provocação, da verdade e da beleza.
“Penso que, neste fim de século, o mundo está à espera de uma espiritualidade, que nunca mais chega. E em Portugal, estamos pior: não esperamos nada.
As minhas inclinações politicas estão todas ditas. Dizem que acabou a esquerda e a direita e por isso há agora uma nova geração que ficou a pairar no ar, sem utopias. Esta gente não tem nada para lutar. Acreditam no sexo, na droga, na violência e na estupidificação. Foi o que lhes fizeram. E não estou a vera oposição a mudar isto.
Pergunta-me qual é a minha ideologia política e eu respondo-lhe que é a rebeldia.
Se é duro uma pessoa não se deixar absorver pelo sistema? Depende. Porque não há UM sistema.” M.V.
Quando fui ver o “Europa Não, Portugal Nunca”, na sala da Companhia Teatral do Chiado - S. Luíz, (mais tarde Teatro Estúdio Mário Viegas), tive a perfeita noção de estar a viver um momento único, brilhante, de uma lucidez aterradora. Já a morte se anunciava no seu corpo mas nunca na sua actuação. Mário Viegas não morreu como actor. Por isso, aquilo do 1º de Abril não deixa de ser verdade. Só o corpo nos traiu.