segunda-feira, outubro 20, 2003
A história simples
É uma história simples.
É a história de duas mulheres desesperadas, perdidas no meio de uma cidade que as ignora.
Uma mãe e uma filha.
A mãe deve ter uns sessenta e tal anos.
A filha uns trinta e tal.
Ambas estão muito envelhecidas. Se calhar são ambas mais novas do que aparentam.
Cena1
Chove intensamente na cidade de Évora. Sentada numa cadeira de praia, no meio de uma rotunda à hora de maior transito, a mãe, faz tricot. Imperturbável, como se não chovesse, como se ela e o tricot não estivessem completamente empapados. São umas cinco da tarde.
Cena 2
A filha dorme, tapada por um cobertor de quadrados castanhos e pretos, à porta do tribunal. Tem o rosto tão pintado que se diria ter gasto um estojo de pintura na maquilhagem. São umas duas da manhã.
Cena 3
Mãe e filha passeiam de braço dado pelas ruas da cidade gritando com todas as suas forças. Dizem que lhes estão destruindo a casa com um buraco. Esta cena repete-se todos os dias ao fim da tarde.
Cena 4
A mãe dorme tapada por um cobertor azul deitada no mármore de uma fonte. Ao mesmo tempo, na mesma praça, o público ri com um espectáculo de teatro de rua. São umas cinco e meia da tarde.
Cena 5
Mãe e filha, cada vez que atravessam uma rua gritam aos carros gritos de horror, como se estivessem prestes a ser atropeladas. São quase horas de almoço.
Cheguei a ver a filha com uma filha bebé nos braços. A filha bebé, a neta bebé, desapareceu sem deixar rasto.
Ficaram só as duas no mundo.
Gritam ao pôr do sol contra a destruição de uma casa por um buraco.
São sós. As duas. No mundo.
É tudo.
É a história de duas mulheres desesperadas, perdidas no meio de uma cidade que as ignora.
Uma mãe e uma filha.
A mãe deve ter uns sessenta e tal anos.
A filha uns trinta e tal.
Ambas estão muito envelhecidas. Se calhar são ambas mais novas do que aparentam.
Cena1
Chove intensamente na cidade de Évora. Sentada numa cadeira de praia, no meio de uma rotunda à hora de maior transito, a mãe, faz tricot. Imperturbável, como se não chovesse, como se ela e o tricot não estivessem completamente empapados. São umas cinco da tarde.
Cena 2
A filha dorme, tapada por um cobertor de quadrados castanhos e pretos, à porta do tribunal. Tem o rosto tão pintado que se diria ter gasto um estojo de pintura na maquilhagem. São umas duas da manhã.
Cena 3
Mãe e filha passeiam de braço dado pelas ruas da cidade gritando com todas as suas forças. Dizem que lhes estão destruindo a casa com um buraco. Esta cena repete-se todos os dias ao fim da tarde.
Cena 4
A mãe dorme tapada por um cobertor azul deitada no mármore de uma fonte. Ao mesmo tempo, na mesma praça, o público ri com um espectáculo de teatro de rua. São umas cinco e meia da tarde.
Cena 5
Mãe e filha, cada vez que atravessam uma rua gritam aos carros gritos de horror, como se estivessem prestes a ser atropeladas. São quase horas de almoço.
Cheguei a ver a filha com uma filha bebé nos braços. A filha bebé, a neta bebé, desapareceu sem deixar rasto.
Ficaram só as duas no mundo.
Gritam ao pôr do sol contra a destruição de uma casa por um buraco.
São sós. As duas. No mundo.
É tudo.