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sexta-feira, outubro 03, 2003

FAZER TEATRO, VER TEATRO...
“A FESTA” – Tá Safo/Artistas Unidos, Teatro Taborda , Lisboa

Começa a ser tão raro assistir a espectáculos a que verdadeiramente possamos dar esse nome, é tudo ou tão enfadonhamente igual ou tão desesperantemente inócuo, que quando temos a sorte de assistir a uma peça desenhada pela inteligência, pelo rigor, pelo desafio de atacar o espectador, directamente, pela raiz do nosso quotidiano, quando toda esta sorte se cruza com o nosso caminho, não podemos deixar de nos sentir profundamente agradecidos àqueles que caminham sobre o arame e assim querem continuar, sem rede, enfrentando esta bandalheira desumana que nos governa.

Esta “Festa”, um texto de Spiro Scimone, traduzido por Jorge Silva Melo, é a festa dos nossos dias, Nós seres que falam e não ouvem. Nós seres incapazes de compreender o outro, seres incapazes de nos compreendermos a nós próprios. Fechados num individualismo de angústias e desesperos. Longe do amor, medrosos dos afectos e a morrer por falta deles. Esta “Festa” é um espelho da sociedade que teimamos em não destruir. Deste estado de desumana condição a que chamamos “Estado de Direito”, “Democracia”, “Civilização”, e até, ironia das ironias, “Progresso”!

Este espectáculo é a primeira produção da Companhia Tá Safo, fundada por Miguel Borges e Américo Silva, prolongando o trabalho realizado a partir de Spiro Scimone dentro dos Artistas Unidos (aqui produtores minoritários). Diz-se interessada em “resolver” projectos contemporâneos, estando a preparar, para 2004 a produção de um texto de José Maria Vieira Mendes a partir de Damon Runyon.

Em momentos de alegria como estes, que outra coisa podemos ou devemos fazer que não seja agradecer e ter esperança no teatro que afinal ainda é possível.

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