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quinta-feira, outubro 16, 2003

DO DESASSOSEGO - COMUNA, CARLOS PAULO, JOÃO MOTA E A MORTE 

"Do Desassossego" é um espectáculo de uma lucidez arrepiante. Cheira-se, respira-se e transpira-se a morte. Não uma morte qualquer, mas uma espécie de vida às arrecuas, uma viagem do caixão para ao útero. A morte de ter nascido.

A Comuna (o meu coração chegou a ter a sua forma) foi sempre a companhia da lucidez. Os seus espectáculos não são para deslumbrar, para seduzir, são o espectáculo da nossa mortalidade, o espelho da nossa existência efémera. Por isso esta adaptação feita pelo Carlos Paulo dos textos de Bernardo Soares, encenada por João Mota, é uma espécie de síntese desdes 30 anos de Teatro de Pesquisa. Se observarmos este "Do Desassossego", encontraremos nele imagens de "Marat", de "A Mãe" e de tantos, tantos outros momentos de negro e de luz da Comuna. É até fácil ver no palco a silhueta da Manuela de Freitas, do Abel Neves, do Mário Viegas, do Pedro Caiado, Francisco Pestana, Melim Teixeira, de Carlos Wallenstein, de José Mário Branco - a expressão musical da Comuna. Lá estão todos neste Desassosego, neste Carlos Paulo regressando ao útero.

E citando uma das últimas frases escritas de Beckett: "E agora, que palavra será?"


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