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segunda-feira, outubro 06, 2003

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE ÉVORA 

Apoio da CME à produção de uma telenovela da TVI

Espalhou-se a notícia de que a Câmara Municipal de Évora vai apoiar, com uma avultada soma de dinheiro, a produção de uma telenovela da TVI: VINTE E CINCO MIL CONTOS. Repito, VINTE E CINCO MIL CONTOS!

Meu Caro José Ernesto,

Em nome da amizade que tenho por si, pela consideração pessoal que sempre me mereceu e reconhecendo o seu dedicado esforço de trabalho em prol da cidade de Évora, peço-lhe que esclareça de forma pública e inequívoca, se esta noticia é verdadeira ou não.

Algo me faz temer que possa ser verdadeira. Se for, não se trata apenas de uma má notícia, mas de um escândalo, de um atentado à dignidade de todos os que lutam diariamente pelo enriquecimento cultural deste concelho.

Por outro lado, não consigo acreditar que o meu amigo permitisse tal afronta, cedendo de maneira tão grosseira à política dos interesses e dos populismos.

Meu caro José Ernesto,

Há tanto por fazer. Esta cidade sofre de tantas faltas básicas, estamos ainda tão longe das mais elementares condições de trabalho que a confirmar-se este desastre, se estará a abdicar da cultura em beneficio de mais um Big-Brother telenovelistico financiado com dinheiros públicos.

Talvez venha aí a resposta que é verdade o apoio da Câmara, mas que os números não são estes, que é muito menos dinheiro, etc., etc. A afronta não será menor. Cada tostão , cada apoio, por mínimo que seja, desta autarquia, é precioso, em todos os sectores. Não é aceitável que saia dos nossos bolsos um cêntimo que seja para pagar a máquina da estupidificação made in Venezuela que é o subproduto televisivo das telenovelas enlatadas.

Lembro-lhe, uma e outra vez, que 29 anos depois do 25 de Abril, Évora não tem uma biblioteca municipal, uma galeria de arte municipal. Lembro-lhe, uma e outra vez, que Évora não têm novas salas de espectáculo, que o Teatro Garcia de Resende, por falta de coragem política e, penso eu, por falta de dinheiro, continua paralisado, recluso de uma administração incompetente e retrógrada. Lembro-lhe, uma e outra vez, das dificuldades com que os agentes culturais se debatem diariamente. Sem dinheiro, sem equipamentos, alguns mesmo sem nada.

Não, não creio que o meu amigo pactuasse com tamanha enormidade. Por isso lhe peço que comunique a todos os cidadãos que tudo isto não passa de um boato mal intencionado, de um rumor, de um golpe baixo inventado por mentes sem escrúpulos.

Se assim não for, todos teremos o dever da indignação, o dever de reforçar o combate justo pela dignidade da nossa identidade cultural.

Seu amigo

Frederico Mira George

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